Há dias passava no telejornal mais uma notícia sobre um crime passional em Portugal em que um homem mata a ex-companheira e o seu enteado, num registo de terror barato se não fosse trágico que custa a digerir. Horrorizada, pois, não vi, contudo, ninguém na reportagem associar o dito ato a nenhuma religião. E porque o haviam de fazer? Por razão nenhuma, claro. Depois lembrei-me de outras histórias parecidas que vão surgindo neste canto europeu e mesmo de relatos quando visitei o Recife (pela boca da guia brasileira) acerca dos crimes passionais e da violência doméstica que preenche amiúde as manchetes daquele estado brasileiro. Não foi mencionada, através de qualquer tipo de informação, a confissão religiosa dos perpetradores. Nem ela interessa para o caso. As pancas, a existirem, grandes e terríficas, não estão diretamente relacionadas com nenhum tipo de fé - já sabemos. E no entanto esquecemo-nos. Quando nos chegam notícias de atos medonhos semelhantes de países como o Paquistão ou, mais perto, Marrocos lá teremos de meter a religião como fator primeiro da violência masculina. Criado o estereótipo, não mais o largamos. O muçulmano há de sempre ser amaldiçoado mesmo se for absolutamente pacífico, ordeiro e democrático. Porque se há um lunático que espalha o terror significa que todos serão obrigatoriamente assim. Claro que ele deverá ser tão brutalmente idiota, ou esperto, que dirá que sim, que a religião lhe legitima os tresloucados atos. Isto vende bem, muito bem, junto das cabecinhas iguais às dele. Por lá e por cá, que saltam logo os preconceitos todos cá para fora para acirrar aquilo que se pretende como uma guerra de religiões e, destestável, como não aceito esta ideia, de civilizações. E isto corre - mata porque é chinês, rouba porque é de leste, foge porque é cigano, viola porque é de cor, prende espancando porque é branco. Corre, mal, bem mal.
Associar as pancas à religião, e à etnia, não é de todo edificador nem (in) formativo por parte de quem quer, racionalmente, construir. Porque realmente as pancas existem e veem de todos os lados, essa é que é a grande neura. Colocar-lhes um rótulo não me parece ser uma solução, não é a solução. As pancas intoleráveis foram sempre e sempre serão. Independentemente se têm lugar em Toulose ou Waco. Porque elas moram num sítio imprevisível e onde é difícil - ou fácil - chegar: a psicótica cabeça de cada um.
Concordo em absoluto. Apesar de ultimamente as coisas terem melhorado um pouco na nossa imprensa, ainda hoje li, a propósito da chacina na escola de Oakland, que o atirador era coreano. Fiquei a pensar que fosse norte-coreano, mas à noite acabei por ouvir, num telejornal que era coreano, sim, mas do sul...
ResponderEliminarSim, na imprensa acho que estamos melhor. Pior é nas cabeças de quem vejo comentar as notícias...e de quem se diz "moderno" só porque vive deste lado. Obrigada, Carlos.
ResponderEliminarInabalável lógica discursiva. Superlativo absoluto analítico: muito bom.
ResponderEliminarjoao de miranda m.
:) Obrigada, já cá fazias falta João:) Mas não há outra lógica aqui, pois não? Beijinho grande
ResponderEliminarÉ tristemente assim como dizes.
ResponderEliminarAh, Regina, tu nunca me defraudarias na visão deste mundo:) Beijinho enorme
ResponderEliminarAs generalizações não são o bom caminho, apesar das pessoas tentarem, por vezes, em vão buscar explicações onde elas não existem.
ResponderEliminarA propósito de crimes hediondos, a minha terra (aldeia ao lado) foi assolada por uma tragédia. Um senhor idoso foi brutalmente assassinado por um grupo de pessoas com contornos macabros. A PJ apanhou anteontem os responsáveis: moram MESMO ao meu lado! I'm speachless!
Marla
Sim, as origens e religião dos responsáveis por determinados crimes são sempre o primeiro alvo. Esquecem-se de muitos outros... O norueguês que executou dezenas de jovens é um de muitos exemplos! Marla
ResponderEliminarOs teus vizinhos não usam turbante nem burqa, aposto...:) O problema é esse, a doentia generalização e criação de estereótipos somente apoiados no que vem dos media... Vou já postar mais uma cor. Perceberás porquê. :)
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