A sua postura em sala de aula, pelo que me apercebi, era irrepreensível. Ordem e disciplina, facilmente conquistado o respeito dos alunos. Havia sempre alguém na sala com ela em dia de teste. E sempre colegas, inclusivamente eu, tantas vezes, que a acompanhavam até às salas, mais por amizade e solidária ajuda do que por uma dependência absoluta. A O. detestava sentir-se dependente. Ela tinha um nadinha de orgulho, tão natural e saudável, a exigir brio, profissionalismo e autonomia. Como tantos de nós a entenderemos, mesmo sem nenhum tipo de handicap do género. Ao reler ontem a entrevista, parei numa parte significativa. O que mais gostarias de fazer e que não possas? Conduzir, dizia ela, pegar no carro, quando estou chateada, e ir para longe. Tão simples para todos e impossível no meu caso.
Um simples desejo de liberdade de movimentos, que me tocou, e que, para mim, também é essencial. E, no meu caso, nem é preciso estar chateada, não conseguiria viver sem sentir essa espantosa autonomia que é pegar no volante. Não sei bem por onde anda, há alguns anos que não nos encontramos. Mas mesmo sem carro, parece-me que, porque assim a conheci, continuará livre por dentro.
Um simples desejo de liberdade de movimentos, que me tocou, e que, para mim, também é essencial. E, no meu caso, nem é preciso estar chateada, não conseguiria viver sem sentir essa espantosa autonomia que é pegar no volante. Não sei bem por onde anda, há alguns anos que não nos encontramos. Mas mesmo sem carro, parece-me que, porque assim a conheci, continuará livre por dentro.
Sabes Amiga, são histórias de vida como esta, que me fazem ver o quão feliz sou por ser "livre"!
ResponderEliminarBeijinhos
Quando temos as asas do desejo, podemos chegar até onde as "rodas" não nos levam.
ResponderEliminarÉ isso, Ana. Retribuo:)
ResponderEliminarAh, jrd, que comentário belíssimo. Poético e verdadeiro. Obrigada.:)
Recordo um colega, da primeira escola onde lecionei... também ele invisual, também ele com um tacto fantástico em sala de aula, também ele autónomo quase por completo... uma pessoa extraordinária!
ResponderEliminarCarla Correia
Olá Faty, a O. que eu conheci, tb na tua anterior escola, (onde fiz estágio), esteve comigo no ano passado. Continua igual a si própria e o sorriso com a mesma candura... É e, será sempre, um exemplo para todos nós que nem sempre valorizamos "tudo" o que temos...
ResponderEliminarRaquel Gomes
Grandes lições de vida, grandes na coragem, determinação e alegria com que vivem com menos do que nós temos.
ResponderEliminarObrigada Carla e Raquel
É um grande exemplo para todos nós, os que temos tudo e ainda nos queixamos. A liberdade é a maior dádida que o ser humano pode ter! Este relato fez-me lembrar um livro que li há uns bons anos, "Pela estrada fora" de Jack Kerouac, um hino à aventura e à liberdade.
ResponderEliminarOn The Road é absolutamente mítico. Kerouac fez parte da Beat generation. A estrada está de facto muito associada à ideia de liberdade. Eu gosto de desbravar a estrada, também:) Até me lembrei agora dos Diários de Che Guevara e de como essa viagem livre, de moto, lhe transformou as perceções sociais.
ResponderEliminarObrigada, Marla! Beijinhos