janeiro 17, 2014

Território sem dono


Isto não é politicamente correto nem idealista, na verdade estou a cansar-me da visão idílica das coisas e da dicotomia esquerda/direita e da forma como ela condiciona a visão dessas mesmas coisas. Por isso, aqui vai.
A igualdade absoluta nunca será uma realidade. Ilude-se quem assim pensa, é um mito. A igualdade de oportunidades, sim, é possível, tem de ser possível. Defendo-a e considero-a essencial e um direito inalienável de qualquer ser humano. Mas o que se fará com ela nunca será igual. Pois diferentes são aqueles que de circunstâncias iguais podem partir. Não existem apenas bons caráteres, boas escolhas, bons caminhos e boas ideias. Experimente-se dar uma quantia exorbitante a dois indivíduos e dê-se um prazo de algum tempo, um tempo considerável, para ver o que fazem com ela. Poderão vir com resultados completamente diferentes. Da mesma forma, veja-se o que fazem dois indivíduos com a mesma instrução, o mesmo grau de escolaridade. O percurso e o sucesso poderão ser completamente diferentes. Arranje-se duas famílias completamente estruturadas, em termos afetivos e financeiros. Os seus filhos poderão evoluir de formas completamente díspares. Há uma coisa subjacente à natureza dos seres humanos, que é a atração pelo abismo. Nenhuma sociedade será perfeita um dia e mesmo se o fosse não seria nem será garante nenhum contra a natureza de cada um e as más apostas que possam fazer. O perigo e o desvio farão sempre parte da existência. Termino dizendo que não gosto da direita quando contribui para o apartheid de oportunidades, mantendo as elites e sacrificando os outros. E não gosto da esquerda utópica que sonha com o impossível, partindo do pressuposto que a igualdade total é alcançável. Posto isto, espero escrever pouquíssimo sobre política (e, vou tentar, sobre educação) doravante aqui no AE. Ou se porventura prevaricar e escrever será, como sempre, de acordo com o prisma pessoal, segundo o que penso, observo e absorvo. Sou, e assim quero manter-me, um país livre.

2 comentários:

  1. O problema não reside na importância (utopia) da igualdade absoluta, está sim na fatalidade da desigualdade obscena.
    Abraço

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    1. Mas sem dúvida, jrd, nem sequer ponho em causa a obscenidade de tantas desigualdades. Como podia? Apenas acho que o social e o político não explicam tudo, há a questão mais filosófica que é a condição humana. E essa passa pela atração pelo abismo. Com tudo o que isso implica, transversalmente. A natureza de cada um não é uma dimensão menor.

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