Os filmes clássicos do século XX desapareceram da pradaria televisiva. De tal modo que as gerações mais novas não os conhecem. Nem os filmes nem os seus intervenientes. Excetuando talvez Marilyn Monroe, cujo marketing pós-vida continua a faturar e ao mesmo tempo a dar a conhecer a sua imagem, não há ideia sobre quem foram os atores e atrizes do cinema clássico norte-americano do século passado, sobretudo antes dos anos oitenta. Eu passei muitas tardes em garota a ver esses filmes - e também noites, mais tarde, pela madrugada adentro. Mas este conhecimento dos "filmes antigos", por vezes, deixava-me envergonhada porque as pessoas da minha geração com quem me relacionava não detinham essa área de saber, estavam mais ocupadas com outras coisas, outros gostos, até outros divertimentos. Tanto assim era que às vezes fingia não saber os nomes para não ser vista como uma "alien". Na verdade, sabia-os, e esse conhecimento estendia-se também a algum cinema europeu, através da televisão, revistas e livros, muitos dos quais ainda tenho em casa. Na universidade, encontrei uma colega que comungava do meu gosto pelo cinema e tornámo-nos amigas. Ela continuou a cultivar esse gosto e esse saber até aos dias de hoje, mais leitora e caseira do que eu. Eu perdi o fio à meada da história do cinema há algum tempo, sobretudo depois da maternidade e de outras coisas chamarem a minha atenção e reclamarem o meu tempo. Hoje em dia, talvez não visse estes filmes com os olhos dos outros tempos, à falta de outros canais na época e à abundância de estímulos variados que existem atualmente. O meu tempo ou, melhor, disponibilidade para o cinema é pouco, mesmo em casa. Mas a verdade é que estas fitas antigas ajudaram-me a crescer de uma forma mais rica, ainda que se mais interior. O cinema é, curiosamente, uma grande experiência interior, semelhante a outras atividades mais viradas para o pensamento e a imaginação. Dos nomes grandes que fizeram essa história do cinema persistem poucos na memória coletiva das gerações mais novas. Muito poucos. É pena. É pena que as televisões tenham erradicado a magia da tela de outros tempos, que não revisitem os espaços e as figuras que marcaram épocas, que não perpetuem o nome de gigantes que não deveriam nunca apagar-se da posteridade.
Os filmes têm intervalos e os intervalos têm anúncios. Logo, a televisão não tem filmes clássicos.
ResponderEliminarParece fazer pouco sentido, mas "vendo " bem...
:(
Pois, vejo, sim, jrd. Só sei que cada vez mais a televisão é mais estupidificante por causa dessas prioridades. :(
ResponderEliminarNeste excelente artigo, afloraste um problema em que me debato há anos: o terror desconfortável de podermos parecer arrogantes aos ignorantes que nos ouvem...
ResponderEliminarJoão, eu sinto-me cada vez mais ignorante culturalmente... porque não tenho disponibilidade para mais. Mas percebo o que dizes, o pudor em mostrar-se que se sabe quando à volta é o que é... :)
EliminarConcordo! É pena, mas há cada vez menos bons filmes na televisão e no cinema. Em parte, devido à política capitalista que levou à massificação da indústria cinematográfica, na base da criação de Hollywood e Bollywood (as duas maiores indústrias de "fabricação" de filmes a nível mundial). E depois há a publicidade e o marketing, implacáveis, que levam os espetadores a visionarem sobretudo os filmes popularistas que passam na tv. Há bons filmes na televisão, sim, na RTP2, mas vistos por cada vez menos pessoas. Também há muito bom cinema no circuito independente, mas pouco acessível e pouco publicitado... Marla
ResponderEliminarEstamos em tempos em que se consome filmes, mas não se veem filmes. E muito menos se discutem. Até porque, realmente, há pouco para discutir. "Void".
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