janeiro 20, 2014

Melhor do que lhes dar o peixe




A proteção deve ser q.b. Sobretudo não pode abafar a autonomia. Associa-se normalmente, pelo menos assim tenho observado, as personalidades protetoras à bondade e às que não são ao egoísmo. Ou seja ser protetor é uma qualidade, não ser é um defeito. Volto a dizer que a proteção pode ser inibidora, paralisante. E que é preciso fomentar a autonomia. Nos filhos, nos alunos. Ainda na semana passada analisava isto na aula - o facto das famílias portuguesas, e mediterrânicas em geral, perpetuarem uma cultura de colo e dependência consideráveis. Que se prolonga cada vez mais até mais tarde. Ao invés, mencionámos as famílias mais a norte, onde é comum as pessoas obterem a independência familiar muito mais cedo. Já conheci, por exemplo, alguns árabes que estão na UA aqui em Aveiro que assumidamente gostam de Portugal pela noção de família ainda ser semelhante à deles, onde essa união é levada a extremos maiores, para o melhor e para o pior.
Aqui a autonomia não é muito apreciada. A pessoa independente não é propriamente a favorita porque a ideia de grupo e do coletivo associados à generosidade é frequentemente apregoada.  Se coisas medíocres são feitas em equipa tudo bem. Se coisas grandes são feitas a título individual nada bem. O conceito de "resourcefulness" está pouco difundido, nomeadamente nos critérios de avaliação de muita coisa à nossa volta. Trabalho colaborativo, cooperação, são usualmente privilegiados. Daí que se veja, é possível, a autonomia como um defeito. Afinal, trata-se de uma afronta. Alguém que não precisa de nós, que prescinde da nossa ajuda, que realiza sem nós, isto não é fácil de aceitar. Para quem gosta de se sentir insubstituível e fulcral nalguma área ou campo.
Mas falava da proteção. Tanto com os nossos filhos como com os filhos dos outros, há que lhes fornecer armas para sobreviverem nas batalhas diárias que vamos todos tendo. Levá-los a defenderem-se, levá-los a pensarem, levá-los a aventurarem-se, levá-los a descobrirem, levá-los a concluírem, levá-los a realizarem. No fundo, arranjar-lhes uma cana de pesca.

10 comentários:

  1. Continuando nas metáforas.
    É verdade, há que ensiná-los a pescar, mas é preciso que eles se façam ao mar antes que sequem os rios.

    Abraço

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    1. :) Por mares nunca dantes navegados, mesmo, e já agora. :)

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  2. A Fátima nem imagina o quanto este texto me sensibilizou. Disse-me muito. Um texto que falou comigo. Coisas minhas, não ligue...

    Esta parte principalmente: "a proteção pode ser inibidora, paralisante". Sei bem que pode.

    :)

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    1. Suas, maria, e de muitos de nós, certamente. Como sabemos que pode. :)

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  3. O problema é que, neste país, as cabeças pensantes não são muito apreciadas... Os carneiros fazem mais o género!

    Beijinhos Marianos! :)

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    1. Completamente. E como detesto essa carneirada :) Afetos :)

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  4. Este seu post tem muito a ver com uma reflexão que tenho vindo a fazer recentemente sobre uma visão imediatista e utilitarista que é hoje cada vez mais tendência, no ensino, na formação etc. isto é a preocupação de ensinar o que vai ser útil para fazer no futuro mais imediato. Na verdade, julgo que a visão tem que ser mais vasta e abrangente e que a escola e a educação em geral tem que ter a preocupação de abrir horizontes e mostrar outros caminhos e outros mundos, fornecendo os instrumentos que permitam pensar, sobretudo e ter a capacidade de agir e encontrar o seu próprio percurso. Mais ou menos isto...

    Beijinho

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    1. Concordo em absoluto. Quantas vezes não penso nisso, Isabelinha. Ensinar a pensar e o que advém daí, não a repetir em estilo reflexo condicionado. :)

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  5. É verdade! Se há algo que admiro nos países da Europa Central e do Norte é a autonomia e a independência dos jovens desse cedo. Os pais motivam-nos a trilhar o seu próprio caminho desde cedo e a procurar um emprego de tempos livres enquanto jovens. Em Portugal, sempre foi mal visto. É essencial cultivar estas características desde cedo quer no seio familiar quer no contexto escolar. É a melhor forma de as crianças e os jovens crescerem e todos os aspetos e aprenderem a pensar... Marla

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    1. Isto cá para baixo é muito "matriz judaico-(árabe-)cristã" :) ;) :(

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