julho 02, 2013

Terrível e possivel



Há conversas ao almoço que levantam questões pertinentes ou sobre as quais importará discorrer.  A propósito de algumas histórias com um fim imprevisível e cruel, contadas acerca de conhecidos, regista-se aqui uma conclusão.
Ainda que possamos pensar que não, qualquer um de nós pode cometer um ato tresloucado. Terrível, condenável, totalmente contrário ao bem. Se é um facto que as personalidades passionais podem mais frequentemente dar indícios disso e podem cair em atitudes irrefletidas e perigosas com maior facilidade, a verdade é que os espíritos mais racionais também podem sucumbir ao desnorte do momento, ao descontrolo do razoável, ao elogio da loucura, ao acometer do mal. E como? Ou as emoções ensombram completamente qualquer laivo de racionalidade latente ou pressão. Como pode alguém, sobretudo racional, fazer algo completamente errado, diabólico? Pressão, dizia. Qualquer pessoa sob forte pressão, continuada, insustentável, pode chegar ao pior dos atos. Não há desculpa, não é aceitável e, no entanto, pode acontecer. Os meandros da mente humana são complexos, e se há maldade que faz parte duma natureza em particular, porque não se controla nem deseja controlar, a verdade é que há irracionalidade e desvario que podem surgir de um momento, de uma fase, de um vertiginoso abismo em que se mergulhou.
Lúcidos e saudáveis, somos incapazes de incorrer num ato demente e criticamos - ou condenamos - quem o faça. E é normal que o façamos, porque indignados pela injustiça, muitas vezes, que ele acarreta. Quando doentes ou fora dos parâmetros da normalidade habitual e desejada, panelas de pressão prestes a rebentar, com mais ou menos causas para tal estado, a história pode ser outra. Terrível, inaceitável e, pior, possível. E não parece que ninguém esteja a salvo.

10 comentários:

  1. O ser humano perde estrutura nos extremos. Os extremos são um local diferente de pessoa para pessoa, daí o risco acrescido, pela imprevisibilidade. Tens toda a razão, Fátima. Também por isso a humanidade me fascina tanto... :)

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    1. Fascinante, a psicologia. :) E fundamental, aqui, a visão da psicóloga verdadeira. :)

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  2. Recuso-me a acreditar que numa determinada fase, que pode ser rotulada de má, se possa matar um filho, uma mãe, um namorado, um pai, um marido. Acho estranho que nessa fase, que muitos dizem ser má, se arranje forças para tirar a vida a outro ser humano, ou então se tenha algum gesto de crueldade. Acho que quem está verdadeiramente doente não consegue arranjar forças para manifestar crueldade. Porque, simplesmente não tem forças. Não quer viver. E quem não quer viver fica caído a um canto, sem se interessar por nada à sua volta. Estes são os verdadeiros doentes, os que merecem que se estenda a mão para os ajudar. Os outrosacho que são simplesmnet gente cruel. Gente má. Gente sem pingo de sensibilidade. Gente fria.

    Mas quem sou eu...

    Tenho pavor, que, de alguma forma, se tente desculpar actos de selvajaria em nome de depressões e fases menos boas. No entanto, consigo perceber perfeitamente o que a Fátima quis dizer ao escrever este texto.

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    1. Maria, não escrevi depressão, escrevi PRESSÃO. Duas coisas absolutamente distintas - enquanto a primeira (re)tira as forças, a segunda acelera as emoções perigosamente até ao limite. Podia dar vários exemplos concretos, mas não é hábito neste blogue, gosto mais de teorizar. Quanto ao que diz, entendo, também, mas não sou, como a Maria, uma pessoa de certezas, ao invés, tenho cada vez mais dúvidas...

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    1. E faz muito bem :) Só digo que era bom que as coisas fossem assim tão simples...

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  4. A mente humana não é a preto e branco. Tem muitas nuances. Eu acredito que há forças dentro de nós cujas potencialidades não conhecemos. Penso que em situações de perigo de vida (nossa ou daqueles que amamos) somos capazes de nos tornarmos autênticas feras. Agora não acredito que quando o "crime" é premeditado, não tenhamosm consciência de que estamos a fazer a "coisa errada". Em casos em que a pressão se torna insuportável, se formos bons caráteres (ou não tivermos nenhuma doença mental) penso que nunca utrapassaremos os limites do razoável. Mas isto sou eu a dizer. Contudo, não sou capaz de avaliar as pessoas que, num ato de loucura, cometeram outra loucura ainda maior. Talvez sim, terrível seja possível

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    1. Premeditação é uma coisa, descontrolo emocional súbito (alimentado por pulsões primárias ou pressão continuada) é outra. Mas o terrível é possível, sim, é a condição humana.

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  5. Ah! Obrigada pela "sugestão" :)

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