julho 04, 2013

O bocejo e o sorriso


"Inúmeros são os poemas que me reconduzem ao tédio e devolvem ao bocejo."
in Divina Comédia

Confesso que gostei de ler isto porque a partir daí sinto que não estou sozinha. Já aqui falei que não sou apreciadora de arte chata e o mesmo vai para as palavras. Entediantes, obscuras, herméticas, há delas que não me interessam, por muito cotadas que até possam ser - e são-no, muitas vezes. Confesso também que não procuro a poesia, ou melhor, que não consigo ler poesia de enfiada, mas que gosto muito que a poesia venha até mim. Coisas. Se a ler de cabo a rabo, não vou recordá-la. Se ela vier a propósito de alguma coisa, e sobretudo se ela me diz alguma coisa, não mais a esquecerei. Quanto a estudei, ficaram poemas e outros foram-se. Era a maturidade - ou ausência dela, era o tempo, era qualquer coisa que a fez ficar ou ir. No entanto, há poemas belíssimos. Dizem tudo, às vezes de forma tão simples, e tudo eternizam. De uma maneira geral, não vou muito por metáforas. Até a poesia, para mim, deve ser clara, límpida, até crua, sem grandes filtros. Pode haver exceções e haverá mas há muita que resulta apenas de um aglomerado de vocábulos nos quais não me revejo, belos jogos de palavras que não  me dizem muito. Ou nada me dizem, na verdade. Na arte e na poesia, os gostos não se discutem - ou discutem-se, se para ai estivermos virados. O bocejo impede-me de apreciar qualquer das duas. Confesso, pois, que não sou poética, embora uma vez me tenham dito que sim. Refutei, porque sei como não sou dada a grandes devaneios fantasiosos nem a lirismos profundos. Gosto de atlas, isto diz tudo. Ou muito. No entanto, é possível que a poesia não esteja somente nas palavras. Não estará, porque há beleza fora do pensamento.  Há beleza na vida, na natureza, nas coisas sem explicação. E isso talvez explique o que a minha colega quereria dizer. Em vez do bocejo, coloque-se um sorriso. Sim, pode ser por aí. E com sorrisos leio também os tais poemas que, felizmente, tropeçam em mim.

4 comentários:

  1. Há poesia chata e poesia arrebatadora. Poesia para rir e para sonhar, para ir às lágrimas, e por aí fora.
    Importante é que nos espante. E nos agite qualquer coisa cá dentro. Senão, é só um exercício intelectual, não vale a pena!
    Bjs

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  2. É mesmo muito por aí. Bem dito:)

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  3. A poesia é bonita (aos nossos olhos) quando nos toca ou tem uma mensagem que nos transmite algo, caso contrário... E nem todos somos dados a lirismos! Marla

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