julho 14, 2013

Beijar Damasco



Nunca estive na Síria, embora tenha mantido desde sempre um fascínio considerável por este mosaico de culturas variado e relativamente bem sucedido - diga-se assim en passant - desde há bastante tempo. Não sendo uma conhecedora do país, só o nome da capital, alimentado por séries e filmes de inspiração bíblica, me fazia logo pensar em história e histórias marcadas no tempo, de tal forma que cheguei a batizar o meu primeiro carro, um clio verde, de "damasco". Explicando. Com a grande mania da geografia, quando olho para uma matrícula associo automaticamente um lugar, uma cidade, um país. O meu carrinho tinha DS e eu só me lembrava do nome da capital síria, ainda por cima em inglês, Damascus, indiscutivelmente para mim mais sonante ainda, pois que cinematográfico. Muitos filmes, sei, muita sede de viagens e outras paragens, mas na verdade esta cidade, sem nunca a ter conhecido, fez uma certa parte de mim durante uns tempos. Daí que ver hoje em dia a destruição de Damasco - e não só - por guerras fraticidas que não mais revelam do que a sede de poder e de manutenção dos privilégios e do status quo, mal ou bem, positiva ou negativamente, não me deixa nada indiferente, de longe. Ainda que de longe fisicamente. Custa-me ver uma cidade e um país que sempre desejei visitar - porque só conhecer permite aprender - em escombros. Esta foto circulava hoje na página da Obvious. É a projeção virtual, por parte de um artista sírio, do quadro de Klimt que todos conhecemos, no que resta da fachada de prédios bombardeados. É, numa palavra, brutal. E altamente significativa, pelas razões que não deviam ser. Eu sempre quis beijar Damasco, quer dizer, dizer olá, cumprimentar, apreciar e despedir-me ao vir embora. Não sei quando será possível fazê-lo, porque a tragédia sobrepõe-se à razoabilidade, a destruição à sensatez, a morte à vida. Até quando fica adiado o meu beijo? E, pior, até quando ficam adiados o amor e a paz de quem lá vive e por isso morre? Para quando, e até quando serão impedidos, os beijos naturais e desejáveis em Damasco?

4 comentários:

  1. Não creio que seja mais possível voltar a encontrar a "Estrada de Damasco".
    :(

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  2. Gostei muito de ler este reparo, Fátima, apesar da tristeza que este estado de 'coisas' nos provoca. A imagem é realmente brutal pelo contraste e pelo que evoca do bem-estar que pode dar-nos um beijo.

    Deixo um beijo não adiado :)) e os meus parabéns pelo AEfetivamente, que é sempre um prazer visitar.

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    1. Olá, Ana Paula, recebo esse beijo - e as palavras - com alegria, as tais pequenas alegrias com que ainda podemos e devemos encarar isto. Porque, apesar de tudo, a nossa tristeza, felizmente, não é ainda a dos sírios.... Outro para si *

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