julho 08, 2013

A quente e, espera-se, a frio

Demasiado calor para pensar e sobretudo para pensar bem, ou menos mal. Mas ainda assim, e a frio tanto quanto (me) é possível, cá ficam as impressões que iam faltando.


1. Há tempos, a notícia de que poderá, a ser feita a vontade de alguns, proibir-se o biberão na Venezuela deixou-me perplexa. Espero não ser queimada na fogueira por causa disso, afinal o medievalismo já passou e parece existir apenas nos países muçulmanos, de acordo com muitos. Toda a favor do bem estar das crianças e bebés, toda a favor do amor incondicional por um filho, toda a favor das melhores condições de saúde, higiene e segurança - assim como as afetivas - que lhes devemos e queremos assegurar. Da mesma forma, nada contra a vontade e opção da mãe em optar pelo biberão, nada contra a não adaptação do bebé ao peito da mãe - há deles voluntariosos desde a nascença, hey?- nada contra a impossibilidade de conciliar certa medicação contra o ato de amamentar e outras razões pelas quais existem muitos por aí que não foram amamentados e, incrível, são saudáveis, felizes, de bem com a vida, etc e tal. As multinacionais lucram com este negócio. Sim, é verdade. Estas e outras. Proíbam-se então as sapatilhas nikes e outras, os cigarros, as novas tecnologias, e mais uma lista considerável de coisas que significam lucro para as grandes corporações. Por outro lado, estará em causa o bem estar e a saúde do recém-nascido. Certo mas nada me garante que uma criança sem biberão vai ser melhor criada e melhor amada do que uma com leite em pó. Que os maus tratos acabam, que o abandono termina, que os abusos e violências várias cessem. É cultural, já dizia um médico uma vez. Mas dessa forma, também são outras coisas que criticamos e que significa a perda de liberdade da mulher, seja pelo voto, pela carta de conduzir, pela mini-saia, pela presença num bar que são proibidas em partes do globo. Ou somos só medievais - desculpem - liberais para o que gostamos ou achamos importante do nosso ponto de vista? Pronto, agradecia que não me crucificassem. Século XXI e feminina q.b., é o que está e há. É que ainda por cima soou-me a totalitarismo. 

2. A situação no Egito deixa-me triste, pelo número de vítimas, pela atmosfera perigosa que se vive, pelo presente e pelo futuro. Neste, tenho tendência a acreditar. A evolução, em qualquer região do globo, muitas vezes não se faz sem ruturas extremamente dolorosas. Não fomos todos sempre evoluídos nem dignos, nem sabedores nem democratas. A história comprova isso, em cada nação, em cada região, em cada continente. Há gente hoje em dia que parece que não tem memória - ou conhecimento - das lutas e das convulsões que vivemos a ocidente para chegarmos onde chegamos. E que mesmo assim não atingimos a perfeição em variadíssimos domínios. Não é coisa que se atinja facilmente, cheira-me. Mas em tudo, entenda-se. Pessoalmente saturam-me as visões de superioridade cultural que vejo por aí. Dá-me a ideia que as pessoas pouco sabem mas tudo julgam saber. Mas sigamos. As mudanças causam frequentemente dor, e há ali um período em que se anda perdido. Individual e coletivamente. E há retrocessos, algumas vezes, mas também avanços. No Egito parece-me sinceramente que houve um golpe de estado. Um presidente eleito foi deposto por via militar ou sob ameaça militar. Ou coação, embora dê no mesmo. Agora acontece que uma democracia não se esgota nas eleições, penso. Seria fácil se assim fosse. Um presidente eleito só porque foi eleito com uma maioria - ainda por cima tangencial - não pode por-se a decretar leis que choquem violentamente com uma grande parte da população, sobretudo se isso colidir com as suas liberdades individuais. Que foi o que Morsi parece ter feito, ou ter iniciado. Daí que estamos praticamente numa situação de fifty/fifty. Isto complica os acontecimentos e não sei o que o futuro, a curto prazo trará. Não vejo as notícias desde há 2 dias. Esperemos. Não adianta é estar a olhar para o passado que foi. Interessa sim resolver o presente para construir o futuro.

4 comentários:

  1. Mais do que uma decisão misogina , a proibição do biberao na Venezuela é uma decisão de manifesta estupidez que carece de explicação que desconheco .
    No Egipto a situação é mais grave a Democracia elegeu um fanático e criou um problema aos "Outros" democratas...
    :-)

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  2. Pois, ambas as notícias abordam de alguma forma, a falta de liberdade. Não entendo porque as crianças não podem beber do biberão. Devia ser uma opção, nunca uma proibição! Também lamento o que se passa no Egito e noutros países árabes, onde a estabilidade teima em não chegar. Quando os líderes dos movimentos libertadores são profundamente religiosos e conservadores, como podemos esperar que implementem um regime democrático com direitos,liberdade (de expressão e outras)? Esperemos que o Egito (e os outros países) tome o rumo certo! Marla

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    1. Eu defendo a escolha da mulher, lá e cá. E defendo a liberdade individual, cá e lá. Que não é o mesmo que libertinagem irresponsável...

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