janeiro 31, 2013

Post da saudade

                              

Ontem foi o dia da saudade, pelo que vi assinalado no FB, já que não costumo prestar atenção a efemérides deste tipo. Não sendo exatamente uma pessoa saudosista, porque não sou, sinto, porém, ocasionalmente, saudades de tempos e coisas, lugares e pessoas. Sinto também, e estranhamente, saudades de sítios onde não estive e de coisas que não fiz. Pensava que era a única, mas já vi que não, inclusivamente aqui na blogosfera. Uma espécie de nostalgia que me assalta, em relação a percursos não calcorreados. Mas falemos das saudades do que foi ou esteve, do que ficou e acabou.
As saudades da infância, por exemplo. Dos tempos das pedaladas na bicicleta, das horas tardias a que chegava, esbaforida, a casa no verão, das caminhadas até à escola primária, numa alegria incontida que significava o ir para a escola. Ainda hoje sonho muitas vezes com a minha escolinha, ainda intacta, e com as brincadeiras naquele recreio cheio de árvores.
Saudades da minha primeira casa, do pátio e do quintal, da rua e do pinhal, da árvore do maracujá sobre as escadas, da figueira onde subia muitas vezes.
Saudades dos tempos de liceu, da leveza que era não ter responsabilidades praticamente nenhumas, das risadas nos intervalos e da espera pelo toque de saída para ver os rapazes mais bonitos por quem suspirávamos, das tardadas sem aulas passadas no centro da cidade, avenida acima e abaixo, era pré-centros comerciais.
Saudades de algumas aulas na universidade, de estar sentada do lado de cá, ouvir, participar,  aprender, especialmente as aulas em inglês, com os professores estrangeiros de quem mais gostei, informais, brilhantes, marcantes.
Saudades dos primeiros anos de ensino, muito novinha, o estágio em Espinho e as minhas primeiras turminhas, meninos do 7º ano, e depois os anos da ESMC, com a tertúlia que dantes havia nos intervalos nas escolas, naquela escola em particular, tanto que sonho com ela até hoje, da inocência daqueles anos menos burocratizados e da frescura física e sobretudo psicológica desses tempos.
Saudades dos meus avós, especialmente os paternos, por ter vivido perto deles e convivido mais com eles. Que não conheceram o meu filho.
Saudades de muitos colegas que fui deixando nas escolas, muitos que se tornaram amigos naquela altura e que depois não encontrei mais.
Saudades de muitos alunos que me passaram pela sala de aula e pela vida profissional e que deixaram marca por alguma razão em especial.
Saudades de viagens, de locais onde estive e onde não voltei, de aventuras em terras não familiares, de sensações novas, de descobertas enriquecedoras, de pessoas que encontrei e não vi mais.
Saudades do Alentejo, que tento matar sempre todos os anos. Saudades de ser criança no Alentejo, de estar sentada à sombra e ler, desenhar, pintar, naquele pátio, ao pé dos avós maternos e dos vizinhos em dias de muito sol e calor.
Saudades do verão, muitas. Sempre, sobretudo em janeiro e até à primavera.
E mais, talvez. O resto leva-se, levou-se. Como se leva tudo, na verdade. Não se pode viver na saudade mas também não é mau senti-la. Apenas significa que se foi feliz. Algures, de alguma maneira, com determinadas pessoas. Não invalidando que não se continue a ser e que não se possa ser mais ainda. 

8 comentários:

  1. Um texto nostálgico e abrangente, que me fez recordar que também eu tenho saudades, mesmo que nem sempre as consiga demonstrar.

    Abraço

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    1. Nós, aquarianos, somos pouco saudosistas e pensamos muito no futuro. Mas de facto há saudades que estão lá, e que nos recordam de belos tempos idos. Não trazem tristeza,penso, somente isso - saudade. Houvesse uma máquina do tempo para fazer umas visitinhas rápidas até lá ? :)
      Outro para si, jrd.

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  2. Concordo totalmente, Fátima! Não se pode viver na saudade, mas a saudade pode ser boa e acaba por ser incontornável. Não significa necessariamente que se queira voltar atrás. São essas memórias boas do que já vivemos, que nos fazem querer que o presente e o futuro sejam melhores ainda.

    Beijinho :)
    Isabel

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  3. Saudade é uma palavra muito bonita e muito nossa (dos portugueses); dificilmente se encontra uma palavra correspondente noutras línguas. Por isso, tão preciosa!
    Também sinto saudades do que passou e foi bom. É sinal de que tivemos momentos felizes no passado e isso é muito valioso. Marla

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  4. AMEI!!!! Também não vivo de saudade, mas, na realidade, sem ela nada somos... Lília

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    1. Já dizia o outro, recordar é viver :) Não é bem isto que defendo, mas lembrar ocasionalmente o bom é bom :)

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