janeiro 09, 2013

O amor não acontece

                                         
Tenho para mim esta ideia que muitos passam pela vida sem conhecer o amor. O verdadeiro, o sublime, aquele que vemos no cinema e nas paixões difíceis ou proibidas que nos deixam em êxtase. Não falo das pessoas solitárias, mas de todas, mesmo daquelas que tiveram ou têm tido um grande número de paixões e de relacionamentos. E das que se dizem felizes - e não temos motivos para duvidar - nos seus casamentos e relações estáveis. Entre estas todas, muitas há que nunca experimentaram o sabor do verdadeiro amor. Ou, que tendo-lo entrevisto, deixaram-no escapar. É uma ideia tola que tenho, esta, a de que ficamos muitas vezes pelas opções mais fáceis e mais convenientes, que não comportam grande risco nem dor. Nós e os outros, claro. Haverá química, haverá desejo, haverá romance, haverá fusão, física e espiritual, haverá exclusividade, e isso leva-nos a acreditar que estamos enamorados. E estamos. Há vários graus de intensidade no amor. Mas aquele amor brutal, não convidado, que irrompe de sentires não esperados, por vezes nem pretendidos, que, a ser vivido, traz uma boa dose de sofrimento de alguma espécie, porque significa cortar com o que é e tem sido, ora, esse amor não é para todos. Muitos nunca o viveram e, provavelmente, muitos lhe terão fugido. Teme-se, quantas, quantas vezes, um amor com esta força avassaladora, que abana as estruturas existenciais de alguém até aí.  Queremos o amor mais possível, que não faça sofrer e não nos dê trabalho. O romantismo perfeito e feliz, que dure e acabe bem, como nos contos de fadas. Pelo menos, que seja essa a previsão. Queremos o amor ao nível da camada mais superficial. Porque o outro, o mais profundo, a um nível que permitirá vislumbrar o sagrado, é coisa de filmes e de livros e de histórias que se podem dar ao luxo de acabar mal. E, no entanto, fugindo-lhe ou desconhecendo-o de todo, nunca se mergulhará na felicidade mais completa que é a vertigem de amar no maior limite.

10 comentários:

  1. Concordo e não concordo consigo, Faty. Começo por achar, também, que há muita gente que passa pela vida sem chegar a conhecer o amor, aquele que nos permite "a vertigem de amar no maior limite".
    Mas depois, pensando melhor, acho até um pouco presunção nossa pormo-nos a falar do amor, como se soubessemos do que falamos, como se fosse possível saber-se o amor todo. Há tantas formas de amar, tantos amores, que o que importa verdadeiramente, parece-me, é a forma como cada um vive e sente o amor. E isso pode ser tão diferente de pessoa para pessoa. Ou até de amor para amor... Enfim, temos tendência para achar que o último é sempre o melhor, porque é o que nos ocupa o coração e o pensamento, naquela perspectiva poética do "que seja infinito enquanto dura", ou então achamo-nos mais capazes de amar intensamente, quando comparados com os demais. Sei lá, tudo isto é tão vasto e complexo que me parece que o amor é para se sentir e viver e que falra dele e sobre ele é sempre reduzi-lo um pouco.
    Mas gostei do post (também tenho andado por aí, mais ou menos. Ou não...)

    Beijinhos
    Isabel M.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Querida Isabel, mantenho em absoluto o que disse - apenas penso que se trata de uma verdade tão incomodativa que nem sempre o admitimos. E lembre-se que nem tudo o que parece... é. Também ( e desculpe) discordo de si totalmente noutro aspeto - nunca é uma presunção discorrer sobre o amor, pois é, provavelmente, a dimensão que mais nos inspirou e inspirará a falar e a teorizar acerca dela. Talvez mesmo por isso, por raiar o sagrado na sua forma mais sublime ou ...trágica.:)

      Eliminar
  2. A propósito, veio-me à memória esta canção, que partilho consigo:

    http://www.youtube.com/watch?v=1fhL-28LgkE
    (E já agora, no comentário anterior, há uma gralha: "falar dele" e não "falra dele"... eheh)
    Mais beijinhos*

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um bonito poema, sim, obrigada pela sugestão. :)

      Eliminar
  3. Andreia Silvajaneiro 10, 2013

    Sublinho Faty ... O amor pelos filhos não conta aqui, certo? Porque duvido que algum outro pudesse (para mim pelo menos) alguma vez ser tão grande, forte e sublime como esse. Quanto ao outro tipo... Acredito q estejas muito certa, porque, a existir, será raro demais para nos calhar a todos... Estará reservado talvez às almas gêmeas ou nas mãos do mero acaso.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não conta, não, Andreia. Esta pequena análise é sobre a paixão amorosa, o amor romântico/erótico. :)

      Eliminar
  4. Ah! O Amor... Há muito que não dispunha de tempo para te ler naquilo que escreves, minha querida amiga... Continuas em forma! ;)
    Sobre o tema em questão,posso dizer que é e será sempre eterno... Porque ele existe enquanto o ser humano viver,é-lhe intrínseco... Tantas as cores e as nuances quanto os amores na nossa existência...Há o de Mãe, o de Filha, o de Irmã, o de Esposa, o de Amante, o de Amiga, o que nos aproxima de quem sofre, o que nos faz sorrir, o que nos faz gargalhar, o que nos faz chorar e sofrer e ....pois é...todos que nos correm nos lábios e nas mãos e no olhar...o de Deus em nós. Amor é amor. Na sua essência, é puro, não exige, não se obriga a ser correspondido,uma vez que sobrevive per si no bem que se quer...Tanto maior,quanto mais desprendido e puro. Depois há a Paixão! Essa sim, incendeia, agita,grita, desdobra-se em fogos, em sóis de outras galáxias, em cânticos de guerra, em cumes de prazer... Assume- se na pele, nas ondas revoltas, na dança do ventre, no querer, no desejo, na posse, na expectativa, na angústia,no descontrolo, na loucura, na chama vibrante que queima ,mas que revigora e nos faz vibrar a cada segundo... A busca do Amor conduz-nos sempre à insatisfação, à procura do eterno que afinal se revela efémero...Porque a felicidade se borda nos momentos de paixão e quando esta se esvai, logo a quimera se desfaz...fica a brasa ,depois da labareda. Resta o calor do que foi fogo. Há quem se contente na paz dessa calmaria, da certeza de um pôr do sol tranquilo...Há quem parta de novo. Na esperança de um novo "Era uma vez..." ...E sabes que mais? Existe sempre o amor romântico, apaixonado, dos contos de fadas...Existe enquanto dura. Mas o ser humano tem a veleidade de o querer "para sempre" e ao fazê-lo refém do tempo e do espaço,suga-lhe o ar e ele sufoca...
    Nené

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nené, temos poesia neste comentário:)
      Olha, não disse que o amor não existe, disse é que muitos fogem dele ou não chegam a conhecê-lo. Na sua forma mais assombrosa, diria perturbante porque revolucionária, muitas vezes. :)
      Grande beijinho

      Eliminar
  5. Concordo! A maioria das pessoas resigna-se a uma relação a dois, a uma partilha da vida com outra pessoa, não sendo esta o amor da sua vida. Como dizes, preferem as "opções mais fáceis e convenientes". Marla

    ResponderEliminar