agosto 11, 2014

A guerra nos olhos


Este filme chama-se Triage, no original, e foi também distribuído com o título Shell Shock (acrescento que este termo refere uma perturbação psicológica de quem é exposto a cenários de guerra e sob bombardeamento). A tradução portuguesa é "Os olhos da guerra". Trata-se de um filme difícil de ver, no sentido em que temos uma personagem masculina fortemente deprimida depois de ter estado no Curdistão na sua qualidade de fotógrafo de guerra. A primeira parte do filme passa-se lá, de resto, e acompanhamos de perto a atmosfera de um palco de guerra e desalento a que poucos conseguem resistir. Na segunda parte, Mark (Colin Farrell) regressa a casa e a partir daqui a ação é completamente outra. A esposa e os amigos apercebem-se que ele está estranho, distante e profundamente traumatizado. Interrogam-se também sobre o facto de ter regressado sozinho, sem o amigo que o acompanhou nesta missão. É então que a esposa (Paz Vega) decide contactar o seu avô para iniciar um processo de terapia com Mark. A relação entre ambos é feita de muita paciência por parte do analista (Christopher Lee) e muita resistência em colaborar por parte do fotojornalista. O filme tem um ritmo lento, sobretudo nesta parte, intimista e até perturbante. Não é fácil estarmos a ver e a partilhar dores psicológicas profundas de ânimo leve, isto se entramos numa história a sério. No entanto, é um filme essencial para compreender o sofrimento de quem passa por cenários de horror e morte. O realizador é bósnio, a Espanha foi o local de filmagens enquanto paisagem curda e o ator principal procedeu a uma dieta baseada em atum para emagrecer drasticamente e ter o ar frágil que apresenta durante grande parte da história. No geral, um filme diferente, denso, que evidencia as capacidades dramáticas do seu protagonista, que nos faz lembrar que as nossas queixas diárias não são nada comparadas com outras bem maiores e que é impossível obter uma vida tranquila sob o signo da culpa. 

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