agosto 20, 2014

Ondas de choque


A notícia de que um português se tornou num bombista radical no Iraque só confirma o que penso desde sempre: a motivação para estes movimentos extremistas não é, ao contrário do que possa e querem fazer parecer, religiosa. O facto de se ter convertido também não me convence. As motivações que levam a estes atos bárbaros sem qualificação são de outra estirpe, que podem passar por fios de frustração e violência já como predisposição interior, convenientemente aproveitados por quem deles se apercebe, até a posições políticas radicalizadas, possivelmente anarquistas e até terroristas porque baseadas em práticas eminentemente destrutivas. Este reino de terror que está a surgir no Iraque tem também uma alucinante e perigosa componente de domínio territorial, o que reforça a minha convicção de sempre em relação à maior parte dos conflitos: eles decorrem maioritariamente da sede de poder e território. 
Ao que parece, há cerca de 3000 a 5000 jovens europeus a combater ao serviço deste "Estado Islâmico" que existe só nestas cabeças como estado mas que no terreno tem instaurado o horror, num retrocesso inacreditável de valores e de estilo de vida. O mais curioso é ver que isto tudo veio numa sequência de eventos desastrosos no Iraque e de purgas atrás de purgas: Saddam amigo dos EUA (dirigente sunita, por contraposição ao inimigo Irão, xiita), invasão dos EUA e deposição do ditador sunita, chegada ao poder dos xiitas e respetiva perseguição aos sunitas do antigo regime, criação do movimento ISIL/ISIS, sunita, com o objetivo de vingança contra os xiitas (e alargando a todos os credos da região, incluindo os curdos e os cristãos), enfim, uma panóplia de vendettas e de alianças completamente caóticas mas extremamente perigosas. É uma tristeza enorme ver aquilo em que se tornou o Iraque desde a queda de Saddam. Não que este não fosse o que era, mas os resultados destas reviravoltas todas tiveram o pior cenário possível. Provavelmente, o que começa com violência só pode acabar em violência.
Mas falava acima dos europeus rendidos a esta "causa". Não sabemos em que termos são prometidas recompensas, porque é possível. Também é possível que sejam apenas opções próprias, mas aqui considero que são radicalismos que devem basear-se na total rejeição dos valores ocidentais (ou americanos?), do capitalismo, do consumismo, das sociedades modernas que se afastam dos valores mais tradicionais. Desta forma, encontram nestes movimentos extremos uma forma de contestação pura, de adrenalina política e social que os faz embarcar numa loucura destas. Também no ocidente há criminosos, mentes desviantes e fracas. As patologias individuais estão por todo o lado. Trágico é quando se tornam coletivas. Sobretudo quando se traduzem em ondas de medieval tirania e de inconcebível crime.

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