junho 06, 2013

Impérios de aparência


1. Já foram certamente registadas muitas impressões acerca do empreendedor miúdo que apareceu no Prós e Contras recentemente, sobretudo por causa da intervenção da historiadora presente no programa e do pequeno diálogo que ambos mantiveram. A única coisa que me irritou, no pouco que vi, e já à posteriori, foi o discurso vazio das miúdas giras para quem a roupa seria, ao princípio, porque depois era "preciso chegar às outras pessoas". Quais outras pessoas? As feias? Bem, adiante, é um miúdo e gosta de miúdas giras, está certo, é natural. O que não é tão natural é que se condene o trabalho infantil (e bem) mas já não se considere como tal qualquer ligação de não graúdos à moda. Ou seja, não é desejável que trabalhem em mais nenhuma área, mas no mundo da moda tudo é aceitável, até elogiado e promovido. Estranho, porque, a meu ver, este não é de todo um universo que considere especialmente saudável, por razões que agora não vou explanar. Muitas vezes são os próprios pais que empurram os miúdos para os desfiles e fotografia, esperando com isso alcançar alguma fama e muitos mais euros. Sei que há que publicitar a moda infantil ou juvenil, mas não é de todo positivo, para mim, que o façam de forma regular que soe a emprego. 
O miúdo é jovem e foi-lhe elogiado o empreendedorismo. Resta saber se o mesmo aconteceria se ele estivesse a mover-se, da mesma forma, numa área totalmente diferente.

2. Visitei a Turquia há mais de dez anos. Tenho, desde então, um especial apreço por este belíssimo país, rico em diversidade paisagística, histórica, cultural. As notícias que vejo ou leio entristecem-me, mas, ao mesmo tempo, reforçam a minha admiração pelos turcos - ou grande parte deles. Porque recusar o retrocesso social e cultural do seu estado é um sinal de que há um caminho de modernidade e laicidade que não pode ser aniquilado. Ataturk foi um visionário, e um corajoso. Confesso que sou uma espécie de fã, naquilo que significa admirar alguém que ousa romper com regras há muito estabelecidas e até obsoletas. Pelo contrário, Erdogan foi uma desilusão. Bem apessoado, de porte elegante, num tom sereno e ponderado, ainda mais com o rótulo de moderado, fez-me parecer que seria um grande líder, longe dos discursos inflamados de outros políticos mundiais, à esquerda ou direita, muçulmanos ou de qualquer outra confissão religiosa. Mas as notícias vinham, através de amigos ou via alguns media. Estava a dar-se curso a uma islamização do país, nos costumes, na vida social e afetando a organização familiar, os direitos da mulher e outros. Externamente aliado dos "bons", do ocidente, internamente a fazer dar passos para trás. De modo que a resistência vista agora tem toda a lógica e compreensão. E mais, a laicidade (que não põe em causa a fé de cada um) tem o meu apoio. E esperança. Que possa visitar a Turquia outra vez e possa vir novamente encantada. E não só com a geografia.

4 comentários:

  1. Aparências que já não iludem, apenas confirmam.

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    1. Realmente, e mais uma vez, há que ver para além do que parece.

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  2. No caso do Erdogan, o provérbio "quem vê caras, não vê corações" assenta-lhe quem nem uma luva! A ver se o povo consegue travar as reformas do líder turco. Marla

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    1. Parece que a nível económico tem feito um bom trabalho, ao que me pareceu, repito, ouvir. Já a nível social... Defendo o estado laico, embora a economia também seja crucial para o desenvolvimento, claro.

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