É um facto que a serenidade, natural ou cultivada, foge quando se mergulha na realidade mais indesejável ou mesmo cruel. Saber significa sofrer, já sabíamos e confirmamos, infelizmente, saber o que é ou o que vai ou o que não sabíamos significa sofrer. Vai-se a serenidade, até porque não podemos, não conseguimos, manter a indiferença. Saber significa atuar, até querer mudar o mundo. E isso não é fácil, ou pior, nem será possível, sempre, ou quando e como queremos. Daí que não me surpreenda as pessoas construírem para si mundos onde não sofram, como fuga ao real que as faz ou possa fazer sofrer. Saber e atuar, porque há que atuar, sofrer. Ou não saber e não atuar, não sofrer. A primeira escolha é legítima, do ponto de vista da justiça e da verdade, a segunda não o será menos do ponto de vista da saúde emocional, até da sobrevivência. Atuar significa, ou pode significar, a sobrevivência de muitos, não atuar significa, pode significar, a nossa própria. Saber chuta a serenidade. Resta saber se queremos assim estar sempre, serenos e não atuantes, porque desconhecedores, ou perturbados e atuantes, porque sabemos. E resta o meio termo, que assegurará meia serenidade e meio sofrimento. E sobrevivências q.b. para estarmos e irmos indo.
Vem Serenidade(...)carrega para a cama dos desempregados, todas as coisa verdes, todas as coisas vis(...)
ResponderEliminarRaul de Carvalho
In: Vem serenidade
Lindíssimo e uma alusão "na mouche", como é seu apanágio, em relação ao post e a tudo isto que nos rodeia. "Vem cobrir a longa fadiga dos homens..."
EliminarVou colocar aqui um extrato:
"Vem, serenidade,
e faz que não fiquemos doentes, só de ver
que a beleza não nasce dia a dia na terra.
E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
e não cedas demais ao vislumbre de vermos
a nossa idade exacta
outra vez paralela ao percurso dos pássaros.
E dá asas ao peso
da melancolia,
e põe ordem no caos e carne nos espectros,
e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
e enfeitiça os dois corpos quando eles se apertarem,
e não apagues nunca o fogo que os consome.
o impulso que os coloca, nus e iluminados,
no topo das montanhas, no extremo dos mastros
na chaminé do sangue.
Serenidade, assiste
à multiplicação original do Mundo:
Um manto terníssimo de espuma,
um ninho de corais, de limos, de cabelos,
um universo de algas despidas e retracteis,
um polvo de ternura deliciosa e fresca.
Vem, e compartilha
das mais simples paixões,
do jogo que jogamos sem parceiro,
dos humilhantes nós que a garganta irradia,
da suspeita violenta, do inesperado abrigo."
Gostei e muito :)
EliminarLindo, não é? O jrd contribui e de que maneira para estas coisas :)
EliminarA indiferença corrompe
ResponderEliminarSerenidade não é indiferença
Pelo sonho é que vamos
Que belo e poético, Eufrázio. Obrigada.
ResponderEliminarO equilíbrio é sempre o ideal, mas vivem-se tempos em que não resta outra opção senão atuar! Marla
ResponderEliminarSão os tempos e o que fazem deles, porque, no fundo, são mesmo os (des)humanos. :) :(
Eliminar