junho 24, 2013

Rolling

Deparei-me com uma revista de jornal, não sei qual era, nem vi, num dia destes, e que alguém deixou esquecida numa sala pequena em que alguns de nós trabalham nas criativas e aliciantes tarefas administrativas da direção de turma. Porque esperava para ser recebida numa outra sala com assuntos urgentes e não podia dar ainda por terminado o dia na escola, peguei-lhe, e lá passei os olhos por umas coisitas. Entraram umas colegas igualmente bem dispostas que me perguntaram se eu também lia disso para descontrair e sim, disse, lia, e leio, quando as há por perto e me apetece, posso ou quero. Umas disseram que todos leem mas dizem que não, alguns, porque não é fino nem cultivado admiti-lo. Adiante, não me lembro de mais nada que tenha visto é certo, por isso deduzo que não seria deveras enriquecedor, até porque não falava das minhas estrelas de eleição, do cinema, 99%. A bem dizer, quando andei na universidade também me acontecia o mesmo. Lia muita coisa que depois esquecia imediatamente depois do teste. Não era verdadeiramente enriquecedor, lá está. E o mesmo me acontece em várias ações de formação que vou fazendo, leio e a maior parte daquela informação toda vai-se passado uns dias. E podia ir por aí fora, mas não. Voltemos ao início, esta volta não é enriquecedora e sei que nos vamos esquecer dela daqui a um bocado. Vamos ao que li e me faz escrever este post.



Parece, então, que a cantora Adele (que maravilhosa voz, até o pequeno pede para ouvir, vezes sem conta, as canções dela no pc) foi novamente criticada pelas suas formas. Isto vinha logo na capa e dei uma espreitadela. E criticada novamente por um outro famoso. Um tipo que espanta o calor e algo mais, quiçá, com o leque, que trabalha para a Chanel, sim, o Lagerfeld. Podia ser outro qualquer, da moda, porque gente como a Adele não faz parte do catálogo dos gostos obcecados com o ideal de beleza que os media propagam, a magreza, se bem que no caso de muitas modelos já seja mais o escanzelado e até o andrógino. Nada contra, mas também nada contra quem tem formas arredondadas, parece ser este o termo utilizado em relação à cantora, de resto, a ser verdade o que li e tendo em conta que ele próprio foi criticado por insistir nas críticas que faz ao corpo da deep voz. Pessoalmente não vejo onde esteja o problema de se ser arredondado e, ainda por cima, lindo. Porque a Adele é linda, faz lembrar inclusivamente muitas estrelas dos anos 50 e 60, mais cheinhas e maravilhosas, com um glamour que muitas magras não têm e um rosto espantoso, luminoso, de bem com a vida, pleno. A moda é uma ditadura. Impõe modelos de beleza duvidosos, gera uma indústria uniforme e sem contemplações para o desvio à norma, para quando grandes marcas fabricarem roupa em larga escala, que cheguem ao pronto a vestir, para medidas grandes? E isto engloba as roliças, as altas, as de ombros largos, as que têm peito, as que são largas de costas, seja lá o que for que as faz sair dos espartilhos  reduzidos ao estilo mignon, esbelto, perfeito, e etc e tal. No outro dia andei a ver vestidos na internet, e deparei-me com a secção com um L e alguns Xs. Espreitámos as "modelos" e eram esplêndidas,  nada urban chic nem existential chic, ao invés, exibiam longos cabelos e belos sorrisos, e estavam maravilhosas em roupas que, por uma vez, tiveram em conta as suas generosas medidas. Porque alguém terá pensado que elas existem e que também têm direito à vida, ou seja, direito à sua forma de beleza e a realçá-la com vestuário à altura. Ou largura, dá no mesmo. É por isso que detesto passereles e desfiles, é tudo igual, o formato não dá margem para a diferença. Ou, melhor, nem sequer deveria ser vista como diferença. Num tempo que (re)clama para si o respeito e a mesma forma de tratamento, na prática e na sociedade, para tudo e todos, é notória a discriminação que existe em relação a quem não se estafa no ginásio para ser perfeita. Não falem em compras online, em lojas ou marcas que têm lá um cantinho (e porque raio hão de ter ou estar num cantinho?) com o número maior assinalado, nem em lojinhas esquecidas numa esquina da cidade. E não basta não terem facilidade em encontrar roupa para si, igualmente sexy ou moderna, ainda levam com os piropos na imprensa internacional vindos de um dos patrões da moda ditatorial. O Lagerfeld não gosta da Adele, ou das suas formas. Eu não gosto do Lagerfeld, da forma e do conteúdo. E depois? Nada, tudo a rolar. A indústria dos trapos continua, igual a si mesma, infelizmente, trituradora de padrões de moda e beleza que muitos vão ajudando a degustar, com consequências psicodigestivas mais nefastas do que se possa pensar. Tudo pela beleza, nada contra a beleza, digo também. Mas de todas as formas, sobretudo as que são naturais. Let it roll, Karl.  Quanta superficialidade, quando, aqui, há mesmo que ir mais (pro)fundo.

4 comentários:

  1. Fátima, olá!
    Estou completamente de acordo. A indústria dos trapos não só tritura padrões de moda e de beleza, como tritura também as jovens manequins obrigadas a um regime de fome para se encaixarem nos padrões de uns quaisquer Lagerfeld, que, acho eu, nem gosta de mulheres. Como pode apreciar e definir a sua beleza?
    Bjs

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    1. Grande Teresa! :) Olá para Lx! Este foi o tema do meu/nosso almoço hoje. Ditadura da imagem e dos valores completamente invertidos. Assim se vai... mal. Bjs

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  2. O Karl vive obcecado com a sua imagem, a dele e a dos outros. Parece-me hipócrita da sua parte criticar alguém mais gordinho, sabendo que ele próprio já o foi. A indústria da moda é cruel e implacável e vive completamente fora da realidade. Marla

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    1. Pois, desconhecia o seu "passado arredondado", és a segunda pessoa que menciona o facto. A indústria da moda incoMODA frequentemente.

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