junho 02, 2013

Branco português católico


Falássemos nós inglês e não fôssemos nós de maioria católica que a nossa televisão pareceria inspirada ao melhor estilo WASP. A pública e também a privada, não vejo diferenças, mais uma vez infelizmente. A nossa sociedade é maioritariamente homogénea, de facto, a nível linguístico, religioso e cultural. Mas continua a fazer-me mossa cá dentro a constatação de que não há gente de cor ou etnia diferentes nos diferentes canais portugueses. Há uns anos ainda se viu um jornalista negro a apresentar as notícias na TVI, acho. E penso que também há ou houve uma jovem atriz de origem chinesa na série juvenil mais conhecida desta estação, da qual nunca vi um episódio inteiro, é verdade, detesto, outra verdade. Penso também ter aparecido uma personagem ucraniana numa telenovela qualquer mas não sei se a atriz era portuguesa ou desse país de leste. Mas contam-se, assim, pelos dedos os representantes de outras nacionalidades ou origens na televisão (e nos outros media, já agora) e tal facto é para mim negativo, por duas razões. A primeira porque não espelha a sociedade mais multi-cultural que temos e vamos tendo, sobretudo nas duas maiores cidades do país. E a segunda porque pode ser reflexo das dificuldades de inserção que essas minorias vão tendo a um nível mais profundo. Dizer que somos hospitaleiros não chega. Somos, e os turistas disso dão conta facilmente, mas se considerarmos a vida dos estrangeiros que cá residem poderá não ser assim tão linear e simpático. Também por duas razões. Ou porque essas pessoas não têm tido garra ou oportunidade de saírem da existência dura que muitas vezes carateriza o fenómeno da imigração ou porque nós lhes temos vedado a ousadia e o sonho. Ou a mistura das duas, é possível. Ainda assim custa-me a crer que nos castings para a ficção ou dentro de outras áreas mais sérias, como as da informação, não apareçam rostos que não sejam brancos, ou católicos, ou outra coisa qualquer que não seja de Portugal e ainda assim lhe pertence. Irrita-me que a noção de globalização e modernidade seja apenas associada às tecnologias, à comunicação na internet e às viagens de férias para longe. Podemos e devemos ter uma perspetiva global cá dentro. A começar por dar destaque ao tecido multi-cultural que é uma realidade de muito do resto da Europa e que vai sendo também por aqui. Ou estas camadas da sociedade só vêm à baila nos media quando fazem algo de errado? Pena não as vermos quando também fazem certo. Ou quando o poderiam fazer, caso as deixassem. A diferença que isso faria para atenuar a diferença. 

4 comentários:

  1. O estilo WASP sempre foi mais tolerante nessa matéria, do que a prática das nossas televisões.
    Por exemplo, nos Estados Unidos, muito antes do primeiro não WASP, Obama, já as minorias étnicas tinham lugar na pantalha.

    Abraço

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    1. Sim, é verdade, mas essencialmente depois do movimento e geração MLK. A história já foi o que não é hoje e há setores na sociedade americana que ainda são "praticantes" desta mentalidade. Mas, é um facto, os EUA são hoje multi-culturais, assumidamente, e bastante mais ricos em diversas esferas por causa disso. Um mosaico impressionante, com todas as cores e origens nos media e na sociedade em geral. Um LIKE para os States nisto, jrd. :)

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  2. Concordo plenamente contigo. Os media não espelham a crescente sociedade multicultural em Portugal; apenas existe um programa aos domingos sobre os imigrantes residentes no país, nada mais. Somos um povo hospitaleiro, sim, mas a receber turistas. Quando se trata de receber novas comunidades no nosso país a história é diferente. O mesmo acontece em muitos outros países.
    Há um cenário pior do que este que me chocou bastante. Em Salvador da Bahia, onde a vasta maioria da população é negra, só se veem brancos na televisão. Deu-me logo vontade de ir para a rua fazer uma manifestação! Isso sim, é gravíssimo, não dar voz nem quaisquer oportunidades aos locais que sempre lá moraram e que são a alma daquela terra. Marla

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    1. Tens razão. Não posso falar do que não conheço, mas é incompreensível e até intolerável que tal aconteça (segundo a maneira como contas).

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