Há pessoas que têm um love affair permanente com o verão, o
que me parece ser perigosamente o meu caso. Desta forma que quando o veem
chegar ao fim, o que acontece cada ano, podem sentir-se abruptamente
nostálgicas e tristes. Afinal, não é fácil fizer adeus a quem se gosta, ainda por
cima quando essa separação não é voluntária nem acordada entre os dois. O verão
amado nesse aspeto é malvado pois vai sem autorização, ainda que com a garantia
que estará de volta no próximo ano. Mas um ano é muito tempo para as pessoas
solares. Não admira que algumas façam incursões por países tropicais quando
estão o outono e o inverno instalados no hemisfério norte. Ter de suportar a
atrofia dos dias, mais curtos, mais cinzentos, mais frios e mais chuvosos não é
propriamente uma ideia que enamore os adeptos do sol quente.
Na verdade, há pessoas que funcionam a energia solar. E se de
braço dado com um calor que aconchega e liberta ao mesmo tempo, melhor. A
luminosidade do verão, a vida ao ar livre que proporciona são talismãs de saúde
e de felicidade para quem gosta de abraçar os dias de forma mais descontraída,
arejada e natural. Tornam-se essas pessoas, elas próprias, mais luminosas, mais
calorosas, mais frescas por dentro e por fora. O macilento, o enclausurado, o
rígido e outros resultados de estações que não aquecem ficam miraculosamente
fechados no estival frenesim das alegrias das manhãs soalheiras, das tardes à
beira mar e das noites quentes que nos acariciam até de madrugada.
Não digo nada de novo – as pessoas de climas quentes parecem
ter um fulgor de viver bem mais visível e exótico do que as de países frios e
mais sombrios. A falta de sol justifica, ao que parece, uma certa percentagem
de suicídios e muita gente sofre quebras de energia consideráveis em épocas e
dias de chuva e céu cinzento. Não me esqueço que, uma vez num comboio enquanto
viajava pela Escócia, falava com um jovem escocês que dizia intencionar mudar
para a Europa do Sul por não aguentar mais o tempo atmosférico na Grã-Bretanha.
E sabemos que quando se muda de país há dificuldades que podem ser causadas
pelo clima frio e duro e que podem mesmo condicionar a opção de ir ou a
permanência nesse local.
Amar o verão é sinónimo de amar uma certa forma de liberdade.
Porque também coincide com as férias para a grande maioria das pessoas, é um
desligar dos horários, das obrigações, dos espaços fechados e das rotinas de
sempre. Mergulhar no verão é, se desta maneira, viver de forma mais tranquila e
mesmo indulgente, entregando-nos aos pequenos ou grandes agrados que fazem dele
a estação dos prazeres. Caímos em volúpias com a natureza, os outros, a
geografia, as viagens, de uma forma simples ou mais ousada mas sempre
regeneradora.
Dizer adeus ao verão é despedirmo-nos de uma refrescante
fonte de delícias. Podemos até sofrer de algum distúrbio psicológico com a
perda do amado verão mas também, e talvez por isso, devemos encarar isto de
forma natural, pensando de forma positiva que o estio voltará a beijar-nos
daqui a um ano, e focando-nos em pontos positivos das estações que aí vêm.
Podemos ser indiscutivelmente fiéis ao verão mas devemo-nos deixar cativar
pelas outras estações, racionalidade dixit. Até porque precisamos de estar
saudáveis para viver de novo o nosso amor quando ele voltar.
(escrito para o bahia mulher)
Por cá, para além de tudo, o Verão permite o engano.
ResponderEliminar«Há só mar no meu País
Não há terra que dê pão.
Mata-me de fome
a doce ilusão
de frutos como o sol.
(...)»
Afonso Duarte
Abraço
Amei este texto, até porque também sou uma pessoa solar e então revi-me em cada palavra. Felizmente, o nosso clima permite belos fins de tarde à beira mar em pleno inverno!
ResponderEliminarObrigada por esta partilha, jrd.
ResponderEliminarTeresa, que bom ler as suas/tuas palavras. Beijinho soalheiro que dure até ao fim do inverno:)
Funciono a energia solar! :D
ResponderEliminarSolar também eu...
ResponderEliminarE que falta me faz o Sol, a luz...
Mais uma vez, parece que escreveste para mim...
Beijinhos
:)
Bom texto, exprime a sensação desoladora que muita gente (inclusive eu) sente quando o verão nos deixa. É uma espécie de morte...
ResponderEliminarjoao de miranda m.
Regina, moi aussi:)
ResponderEliminarAna, pois para ti escrevi:) E para muitas/os de nós:)
João, que bom ter-te de volta. Ao menos o outono já trouxe uma coisa boa:)