setembro 10, 2012

Ilhas de diferença



À partida, parecemos todos iguais - o ser humano, sabemos, tem motivações semelhantes, assim como medos e sonhos, angústias e sentires. Acabamos todos por, mais ou menos de forma consciente e voluntária, fazer as mesmas opções e apresentar projetos e padrões de vida muito similares. Somos, então, parecidos enquanto indivíduos, especialmente se falamos de amigos e de pessoas com as quais temos afinidades. É muito bom descobri-las e através delas construirmos relações de afetos variados. Procuramos estar rodeados de formas de estar que não entrem em conflito com as nossas, pelo menos quando podemos selecionar os relacionamentos. Em todo o caso e ainda assim, mesmo entre os amigos e os bons colegas e as pessoas de quem gostamos, pode na verdade, haver diferenças consubstanciais entre nós. Vinha no outro dia a pensar nisto ao volante, em como à superfície parecemos uma coisa, diria até bem mais simples do que depois somos realmente e de como às vezes não nos damos, por incapacidade ou vontade, a conhecer totalmente, mesmo com amigos queridos e colegas de eleição. Ou seja de como a nossa complexidade interior é bem maior e de como isso nos torna tão mais diferentes dos demais. Ou se calhar serei apenas eu a sentir assim. De como no íntimo de mim mesma não sou nada daquilo que se julga, do que aparento, ou serei menos ou mais do que isso. Somos mais e menos do que aparentamos e não se aplica a fórmula matemática. Também é verdade que há pessoas mais complexas do que outras, para quem a fasquia da exigência está mais alta em relação a muita coisa e mais alguma. Mas isso explica a razão pela qual uns encaram certas situações com naturalidade e outros com apreensão e vice-versa. E não é por nos movermos nas mesmas águas que daremos respostas iguais aos estímulos e ás necessidades. Sempre recordo a frase de Miguel Torga, "O que eram as pessoas? Ilhas. Ilhas isoladas e um braço estendido à espera que alguém atravesse a ponte". Nós somos ilhas, de mais fácil ou mais difícil acesso. Também há quem estenda mais facilmente o braço e, estendido ou não, sempre pode haver quem atravesse a ponte, ou não. Insularidades interiores. São elas que nos dificultam um determinado número de coisas mas também são elas que nos resguardam de possíveis desabrigos. Não somos iguais, longe disso. Procuramos sê-lo, frequentemente, porque nos facilita e adoça a vida, se bem que muitas vezes quando não somos deixamos marcas extraordinárias dessa singular diferença.

6 comentários:

  1. Será mais difícil, mas é muito mais gratificante, estabelecermos pontes e identificarmo-nos, quando temos diferenças.

    Abraço

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  2. É mesmo muito importante encontrarmos pontes, quer dizer, pontos em comum. É essencial para reduzirmos a sensação de estarmos isolados que nos pode frequentemente assaltar:)

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  3. Concordo, amiga! Tão certo!!!! Lília

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  4. Estabelecer pontes entre as diferenças de cultura, de religiões, de opiniões entre as pessoas seria um grande passo para a tolerância e a paz.

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  5. Eu nem estava nessa dimensão - referia-me a uma esfera bem menor:) mas desse ponto de vista, então, é crucial.

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