Já aqui o disse ou deixei transparecer: as ascensões profissionais rápidas causam-me alguma confusão. E as relações de amizade súbitas igual. Ou ainda mais, é possível. Concluo, assim, que tenho sido e sou cautelosa, sobretudo nas últimas.
Demoro tempo para estabelecer relações verdadeiramente sólidas, embora faça conhecimentos com muita facilidade e adore falar com desconhecidos. Mas da simpatia e conversa de ocasião ou parecido à amizade propriamente dita, que envolva um conhecimento mais profundo e uma partilha maior, vai um enorme passo. E compasso, de espera. Rápidas paixões amistosas têm dado em grande desastres pouco tempo depois, tenho-o observado amiúde. A construção mais lenta, pelo contrário, parece-me dar mais frutos. Uma vez aceite, uma amizade sem deslumbramentos nem defeitos escondidos, será, no meu caso, sempre revestida de lealdade. E se não vivida em presença física pelo menos cá dentro, de alguma maneira. Os amigos podem ser menos desta forma, é um facto, mas serão mais verdadeiros.
Quanto ao veni vidi vici profissional, é possível que resulte, se as pessoas forem verdadeiramente competentes e honestas intelectual e moralmente. Há ascensões meteóricas absolutamente justas, merecidas e baseadas no real valor. Se não, as quedas podem ser surpreendentes. Eu sou daquelas que acredita que a promoção do demérito acaba por cair por terra, mais tarde ou mais cedo. Mas talvez esta conversa não tenha muito interesse para quem gosta e sabe viver sempre no impulso e no calor do momento. E que está certo, de resto. Na verdade, não sei se a cautela é melhor, de todo. Apenas digo que há quem funcione de um modo e quem funcione de um outro. Com o passar dos anos, apercebo-me que me tornei cautelosa. Diga-se que para o bem ou para o mal.
Costumo dizer que as amizades é como o amor. Há aquelas, raras, que são à primeira vista e que em pouco tempo se cria uma empatia enorme. Pessoas com quem conseguimos falar de coisas que não falamos com amigos de longa data. Mas depois, como o amor, só se confirma se são mesmo à primeira vista depois de se terem realmente tornado em algo sólido. E isso, só mesmo o tempo. Muito tempo.
ResponderEliminarTempo é essencial. MS. Mas eu talvez distinga o amor da amizade. O amor tem que ser deslumbramento no início, faz parte :) Já na amizade não me parece razoável o súbito deslumbramento. Alicerça-se em coisas diferentes...
EliminarAcho que podem existir diferentes começos. Amores sem deslumbramento inicial e que duram uma vida inteira e amizades com grande entusiasmo (talvez seja a palavra certa no caso das amizades) e que se tornam sólidas com o tempo, existindo uma adaptação da imagem inicial ao que a pessoa realmente é. E vice-versa. Mas concordo que na maioria das vezes os processos ocorrem como descreve.
EliminarConcordo com o que dizes. Mas este texto fez-me lembrar a postura dos alemães: não há um contacto fácil e, claro, demoram muito a estabelecer laços de amizade. Aqui é todo o mundo muito cauteloso...
ResponderEliminarMesmo havendo muita sacanagem, o Brasil é que é mesmo a minha onda. Mesmo havendo o risco de abuso de confiança, gosto muito do contacto fácil, da conversa fácil. O ambiente é mais animado e o convívio é outro.
Marla