setembro 21, 2014

Crítica da religião pura

 
Encontrei estas fotos num excelente artigo que retratava mulheres de coragem ao longo do século XX. Ambas se referem a mulheres afegãs nas décadas de 60 e 70, se a memória não me falha muito, as primeiras a estudarem medicina e as segundas numa biblioteca. Trouxe estas fotos até aqui porque servem o propósito deste post de maneira inequívoca.
Ainda ontem lia na blogosfera que há um núcleo radical no Islão, em claro contraste com o resto das religiões, ocidentais e orientais. De facto, ainda que estas já tenham tido os seus momentos mais bárbaros, sobretudo as cristãs, tal situação já consta dos compêndios de história, uma prova que já se apagou num tempo que já foi. Ao invés, não podemos negar, há neste momento uma forte radicalização de alguns setores do Islão, que têm culminado em organizações terroristas que tentam ou incitar ao ódio contra quem não segue os seus preceitos ou mesmo perseguir e aniquilar quem não confessa a mesma fé. O regresso a tempos medievais e até bárbaros tem sido testemunhado através do estilo de vida de alguns países e agora, de forma que nos surge chocante, através da autoproclamação do mortífero e anacrónico Estado Islâmico. Mas a minha opinião mantém-se: o islão não é incompatível com a modernidade, também como já provaram os estilos de vida de alguns países e as medidas corajosas de alguns dos seus líderes seculares. As fotos que posto aqui são disso um exemplo. Haverá alguma dúvida de que estas mulheres vivessem num país de maioria muçulmana? Não poderiam elas também ser crentes do Islão? E de que forma isso abalou ou impediu que tivessem direitos que atualmente não têm?
Contudo, não podemos ignorar esta crescente onda de fundamentalismo islâmico. Mas, pessoalmente e tendo em conta aquilo que vou vendo, observando e absorvendo, continuo a pensar que este radicalismo perigoso tem uma forte componente política. Fortíssima. E que a maior parte destes movimentos se desenvolveu nos últimos quarenta anos do século anterior e que tal facto está diretamente relacionado com a questão palestiniana. Até porque este conflito teve momentos de máxima tensão por esta altura: A Guerra dos Seis Dias, a do Yom Kippur... Convenhamos. Qual a razão deste grande ódio aos EUA a não ser o facto de serem os grandes aliados do estado de Israel? Isto é constantemente apregoado nos discursos contra a América e contra os seus aliados ocidentais. É recordado nestas ignóbeis execuções do EI e, mesmo que a sociedade capitalista e consumista possa não agradar a estas organizações de terror e guerrilheiros medievais, a questão mantém-se: o antagonismo face ao ocidente tem tudo a ver com a questão da Palestina, primeiro, e depois com os sucessivos erros da administração americana na região do Médio Oriente. Há, também certamente, por parte destes radicais, um sentimento de grande frustração. A corrupção dos seus governantes, a pobreza, a opressão, as condições de vida que em nada ajudam ao esclarecimento, a necessidade, muitas vezes, de e/imigrarem, o racismo, a xenofobia, tudo isto conspira para fazer nascer o ódio. E este só pode conduzir à violência. De maneira que estamos perante um tempo de terrível perigo. Esta radicalização islâmica é castradora, cruel e letal. Por outro lado, a islamofobia que vai crescendo, precisamente pelo medo que o fundamentalismo necessariamente vai criando, também causará danos neste diálogo que parece ser cada vez  mais difícil.
Concluindo, não consigo separar a política desta jihad supostamente em nome de Deus. Até as reportagens da Vice News que vi me mostraram isso: no EI há uma abordagem totalitária - comunista ou fascista, não soube destrinçar - que vai muito para além do credo religioso.  E, voltando às fotografias, pode ser-se crente e isso não constituir problema nenhum. O problema reside quando alguém toma o poder e instaura, pela força e pelo medo, um estilo de vida que toma como o certo. Se usar o nome de Deus para a barbárie ou para o retrocesso será porventura tudo bem mas fácil.  

1 comentário:

  1. Difícil acreditar em tamanho retrocesso... Ou melhor, que já existiu um Afeganistão mais moderno e iluminado.
    Marla

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