Há mais de dez anos, passei duas inesquecíveis semanas na Escócia numa formação para professores portugueses que lecionam inglês, através da APPI. O local que nos acolheu foi a Universidade de Stirling. Desde essa altura que desenvolvi um grande apreço e até carinho pelo país das Terras Altas, tantas foram as boas experiências e os conhecimentos que tal estada me proporcionou. A ponte de Stirling lá estava, a ´nova´, e o monumento a William Wallace também, lá no alto. Um dos pubs chamava-se "Rob Roy" e por ali respirava-se cultura e história de mãos dadas com a modernidade.
Os escoceses claramente diziam não gostar dos ingleses, faziam, de resto, muitas piadas com este legendário antagonismo. A pontualidade era praticamente um culto. As ghost stories alimentavam o turismo e o gosto popular. As lojas fechavam cedo, muito cedo, para os nossos exagerados padrões lusos. Os espetáculos à noite eram obrigatórios, muitos e esgotados. Os locais que visitei permanecem, pois, na minha memória de afetos e a capital, Edimburgo, sob chuva forte demais para agosto e cheia de referências literárias, elevou-se ao topo das minhas preferências.
Assim sendo, eu seria uma votante do sim. E entristece-me ver que se gorou uma oportunidade histórica única. Uma oportunidade que não existiu antes desta forma, e que foi e tem sido tão desejada por tantos através dos tempos. Tiro o chapéu à democracia britânica, com sede em Londres, uma das mais justas e tolerantes, quer pelos exemplos de multiculturalismo - que parece chegar até a aspetos exagerados - quer pela abertura política demonstrada através deste referendo. Não são muitos os estados a fazê-lo, poucos ou quase nenhuns, na verdade, e tudo feito de forma pacífica, dialogada e com total civismo.
O não venceu, vejo e escuto, e na minha opinião o medo venceu. Não sou especialista em economia e alta finança nem nada que se pareça mas penso que terá sido a pressão da questão económica que terá ditado a escolha pela não independência. E entristece-me ver que a Europa dos mercados e dos gabinetes, a "respirar de alívio", tenha mais importância do que a alma escocesa. Mas isto sou eu, que por vezes sou dada a motivações poéticas. O RU continua firme, a NATO também deve estar aliviada, e lá se foi o sonho de Wallace. Nem só de memória e de quimeras se alimentam os dias, é um facto, mas lá está, havia e há quem não tenha medo do sim. Hecatombe ou triunfo, só a audácia e o futuro o poderiam dizer.
As almas românticas como tu queriam dar esta independência a William Wallace, mas à cautela o não vingou em prol de uma estabilidade global, sobretudo económica. Temos de ser realistas nos nossos dias, apesar do filme do Mel Gibson nos por a torcer pela independência da Escócia. Os tempos são outros...
ResponderEliminarMarla