Não gosto do ensino que protege, que facilita, que desresponsabiliza. Não gosto do ensino que dá a papa toda, que não exige, que não promove a autonomia. Não gosto de demasiada familiaridade no ensino, das relações tu cá tu lá, embora goste dos afetos e de harmonia. Não gosto da linguagem que é permitida e muito menos gosto da linguagem que é usada e que nunca o deveria ser. Não gosto que se permitam novas tecnologias na aula, não as que usamos, as que eles usam, por baixo da carteira, ou nos ouvidos. Não gosto deste ensino em que estamos presos de várias maneiras mas mais ainda tolhidos pelo medo ou vencidos pelo cansaço. A saturação é mais do que muita. É difícil remar contra a maré, contra a loucura que vem de cima, ministerial, a que vem de baixo, dos miúdos, a que vem dos lados, famílias, sociedade e mais. A boçalidade, o desafio gratuito, a agressividade verbal, a preguiça, o desinteresse, as prioridades trocadas, a linguagem vernácula, o desconhecimento do que é a pontualidade, a ausência das aulas, o barulho, o desinvestimento no saber, a impunidade, o abuso de confiança, e havia mais, tanta coisa mais, tudo isto é o que alguns de nós veem, todos os dias, em quase todas as horas, agora e depois. Se isto não é uma forma de violência, contínua e sem fim, desvirtuadora de qualquer valor, inclusive, então não sei. Não se queixem depois dos adultos corruptos, indignos e patifes. Estamos a prepará-los, desde já, a safarem-se na mais completa desonestidade intelectual e moral.
Ámén, Fátima. Vê-se que é escrito em modo desabafo (foi a sensação que me passou) mas gostei bastante. Nada a acrescentar, portanto.
ResponderEliminarVou só destacar este ponto: "o desconhecimento do que é a pontualidade", gostava imenso que algo mudasse neste aspecto na mentalidade dos portugueses (alguns... muitos). È algo com que não consigo lidar, seja no campo profissional, seja no campo pessoal. Irrita-me solenemente.
Um bom fim-de-semana :)
Sim, é verdade, maria. É um desabafo, um lamento também, e, pior, a minha realidade enquanto profissional, a minha e de muitos outros. Só tenho pena que isto esteja a piorar a olhos vistos e que só se desabafe e lamente no psiquiatra ou entre colegas. Quanto à mentalidade dos portugueses, não poderá ser outra enquanto cá em baixo, desde a sua formação, persistirem estes erros crassos que saem impunes. Igualmente para si :)
EliminarNão poderia estar mais de acordo. Um amigo meu dizia-me há dias " a minha consolação é que já não vivo para ver estes jovens chegarem a adultos ".Bom fim de semana Faty. Aliete
ResponderEliminarEstes adultos vão, muitos deles, safar-se na mais descarada desonestidade e impunidade. Ver isto não é fácil, não, mesmo. O ciclo está viciado.
EliminarObrigada, para o sul também :) (Aqui chove a potes.)
( quando digo adultos, digo homens e mulheres a terem cargos de relevo neste país ) Aliete
ResponderEliminarPois, não duvidemos. Com certeza. Mas também haverá marginalidade de vários tipos, sem regras e desafiadora.
EliminarPercebo muito bem o que diz, Faty. Ninguém sabe na verdade e nem sequer consegue entender o que passam os professores, hoje.
ResponderEliminarHá três dias encontrei uma professora que conheço vagamente. Na conversa calhou dizer que para o ano volto para a escola. E ela perguntou-me várias vezes se eu tinha a certeza. Disse que cada ano está pior. E diante daquele ar exausto e dos olhos baços enquanto repetia "eu não vou aguentar mais dezoito anos disto" eu fiquei sem palavras...
"Exausto", essa é a palavra. Notório no rostos, sim... Um colega dizia há dias, ao almoço, "este é um ano sem precedentes". Estamos exaustos, saturados, e somos violentados diariamente, não só com a indisciplina, mas com burocracia (e decretos-lei ) completamente inenarráveis, que nos esgotam e só facilitam e promovem o total desleixo e desrespeito que alastram a olhos vistos. Pode haver escolas onde a matéria prima atenue, Isabel, o que é muito bom, mas em geral (e na minha) só tem piorado. Hard times... ;(
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