julho 20, 2012

Do fado



Apáticos, desinspirados e desinspiradores, deprimidos e deprimentes, assim estamos (somos?) como povo português. E não se trata apenas dos professores e da falta de adesão à iniciativa de ontem, é geral, transversal a grupos que deveriam protestar mostrando o seu desagrado, de forma pacífica ou não. Não que se defenda a violência mas que ela seria compreensível, assim como o tem sido noutros países onde eclodiu. Esta é a massa de que é feita Portugal. Mestres na arte do queixume e cobardias cabisbaixas na hora de reagir. Pouca coragem, pouca audácia, nenhuma luta, nenhuma voz. O consumo sobrepõe-se a qualquer tipo de descontentamento. Distraimo-nos com as férias, com os aparelhos eletrónicos, com a praia, com a roupa de marca, com a internet, com os hipermercados, com as festas populares, com os copos e as noitadas, com as festividades que importamos, com o ballet e o karate dos filhos, distraimo-nos e esquecemo-nos das razões pelas quais nos queixamos. 
Pensamos que somos grandes, indignamo-nos quando alguém nos critica ou avalia por baixo, agigantamo-nos perante outras nações e culturas, sobrevalorizamo-nos em áreas que não devíamos e revelamos baixa auto-estima noutras onde também não devíamos, invejamos quem brilha, criticamos a corrupção mas colaboramos com ela de pequenas ou grandes formas, queremos transparência mas não falamos a verdade, exigimos dos outros mas nada fazemos, ficamos presos a fantasias sebastianistas e às descobertas que já foram, tememos o futuro, queixamo-nos do presente mas na hora h não nos mobilizamos. É tão mais fácil para nós não esticar o pescoço, nada arriscar e esperar por melhores dias. 
Cansaço ou comodismo? Desesperança ou indiferença? Depressão ou cobardia? Pouco importa quando o resultado é o mesmo - uma completa apatia social que revela uma grande falta de atitude perante políticas e ideias que, não sendo só de agora, têm vindo a agudizar-se e a afetar tremendamente o nosso quotidiano. A paz e o sossego são bens preciosos que cultivo com toda a determinação. Mas os mesmos não podem edificar-se sobre a inércia e a falsa serenidade. Não me perguntem como mas desta forma é que não nos servimos. Desta forma é que não construiremos nada, desta forma é que não evoluiremos como sociedade. Mudos e quedos, não iremos a lado nenhum. Doentes, morreremos.

5 comentários:

  1. Que dizer mais, para além do comentário ao poste anterior.

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  2. Ai dos indiferentes

    Resisstir é preciso
    Belo

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  3. Pois, jrd, é isso tudo.

    Olá Eufrázio, obrigada pela visita. Resistir é essencial.

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  4. Obrigado pelo comentário no KK. Criei lá um link para o seu blogue.

    Tem razão quanto à nossa apatia. Mas isso - acho eu e admito que esteja errado - será porque ainda não nos apercebemos da verdadeira dimensão da tragédia que o futuro nos traz.

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  5. Eu é que agradeço, "Kruzes":) Pois, o pior é isso, é um futuro pelo qual não trabalhamos, de todo. (Gostei muito das suas reflexões, muito bem escritas.)

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