Deparei-me com uma frase da estilista Fátima Lopes em que afirma sentir-se chocada com a resistência às 40 horas semanais e acrescentando que ela própria nunca trabalhou menos de 40 horas por semana. Três coisas: primeira - é verdade que não se vai lá sem trabalho e sem esforço; segunda - a estilista trabalha por conta própria, para ela, e sabemos que as pessoas que o fazem são naturalmente mais esforçadas, nomeadamente em termos de horário, por razões mais do que óbvias; terceira - a opção da estilista não é seguramente a de muitos, ou seja, (diz que) não quis ter filhos, está no seu direito, claro, e, neste momento, é, ou parece ser, uma mulher livre, com as implicações que isso significa, mais tempo e maior disponibilidade para se dedicar àquilo que gosta e que a faz ganhar e muito. Por outro lado, não nutro simpatia por workaholics que apregoam o trabalho como opção primeira de vida e que apenas se parecem projetar através dele. Mais uma vez, estão no seu direito, mas também estou no meu ao discordar de uma éxistence privada de ócio e vida familiar. Posso trabalhar até à exaustão, por profissionalismo ou brio, ou respeito e gratidão, mas não porque o procure necessariamente. Na verdade, trabalho porque preciso, e portanto não sou uma viciada, de longe. Por dádiva, fazia mapas astrais e outras coisas que dessem apenas prazer, a mim e aos outros. Eu, nestas matérias, não sou nada feminista - acho que nós mulheres, mães pelo menos, devíamos ter horários completamente adequados à educação e acompanhamento dos filhos, como se vê, penso, em certos países do norte da Europa. Não estejamos com histórias: na senda da igualdade quem perde somos nós. Não basta o full time, como ainda damos o litro com as tarefas domésticas e a supervisão da escola, da saúde, da roupa, da alimentação dos filhos. A maior parte das encarregadas de educação são mães, isso diz tudo. Eu cá voto não pelas 40 - um retrocesso - mas pelas 20. Sou diferente por ser mulher? Sou e não me importo nada de o ser. Quem me dera mais tempo para maior qualidade de vida, para mim e para os meus. Ou é bom as crianças passarem o dia todo na escola e no ATL, com as consequências várias que daí decorrem, nomeadamente a falta de concentração e um grande desacompanhamento que às vezes induz a certos comportamentos? Mas isto vinha a propósito da Fátima. O sucesso advém da dedicação e da entrega, mas cada um trilha o seu caminho. A opção dela não é a minha nem será a de muita gente (mais horas quando ainda por cima dizem que há funcionários a mais?). Gosto de equilíbrio e desiquilibro-me se não o tenho. Trabalho e conhaque, entenda-se. Tem de haver horas para os dois...
:) Não sei se uma redução para 20 horas não nos traria uma componente importante das nossas vidas, sem a qual não sei se saberíamos viver: a possibilidade de carreira. Se concordo com redução para as 35? Concordo. Se concordo com a reposição dos dias de férias que nos retiraram? Claro que sim. Mas por outro lado também me parece que se as alterações fossem tão significativas, perderíamos lugar na sociedade. Mas respeito o teu ponto de vista, claro. Até porque também sou mãe... :)
ResponderEliminar( não é traria, é tiraria... :)
ResponderEliminarEntendo-te, também, Carla, mas não sou mulher de carreira. Recuso e recusei algumas coisas em nome da minha liberdade pessoal, que é bem mais importante e que me dá, daria, tempo para o que gosto verdadeiramente: explorar. :)
ResponderEliminarE quando digo 20 significa trabalhar a meio tempo, algo que, um dia, gostaria de poder fazer :)
EliminarInfelizmente há muitas Fátimas Lopes por aí. Gente que trabalha mais de 40 horas semanais e acha que o dia deveria ter mais horas para trabalhar. Mas consideram trabalho as viagens para os grandes centros da moda e os tempos em que "bebem uns copos" por causa da moda. A compensação monetária é choruda e as férias são passadas em locais aos quais nunca teremos acesso. Assim eu também não me importava. Ficar alojada em grandes hoteis rodeada de bajuladores e empregados. Ter quem faça a comida, a cama e todas essas coisas que nós temos que fazer sem qualquer remuneração. Depois há um dia em que simplesmente não apetece e cancelam a agenda. Falar de barriga cheia, é muito bom. Mas uma coisa é trabalhar com motivação, outra, completamente diferente, é trabalhar sem ela. Desculpa um comentário tão extenso :(
ResponderEliminarExcelente comentário, subscrevo completamente. Bem visto e pertinentíssimo.
EliminarConcordo! A posição da Fátima é típica de uma workaholic, não fosse ela capricorniana (que coloca o trabalho num pedestal). De facto, a ela não lhe perturba uma pesada carga horária de trabalho, visto não ter filhos, opção que respeito, embora os motivos me desagradem: não querer ficar com o corpo "deformado" (vi numa entrevista há mais de 10 anos e nunca mais esqueci; achei de uma frieza...). Também acho mais que justo que combinar o trabalho com a maternidade deveria dar direito a desconto de horas no horário semanal. Sempre achei o nosso país muito rígido, na área laboral e nos estudos académicos, por exemplo. Os planos de estudos académicos são muito rígidos: tens de estudar físico-química ou português-francês... E porque não inglês e desporto ou matemática e linguística? Assim funciona nos países nórdicos. No âmbito laboral, o nosso país também deixa muito a desejar. O ideal seria os trabalhadores puderem optar por trabalhar 60%, 70 % ou 80 %, permitindo-lhes conciliar melhor o trabalho e a família, mas para tal os salários teriam de ser outros. Marla
ResponderEliminarHá trabalhos e trabalhos... ou seja, há missões, paixões e empregos. E por aí fora... :) E há salários e salários e o que isso significa :)
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