Todos nós conhecemos juras de amor eterno, ou até mais imediato, quer porque as dissemos ou ouvimos quer porque as vimos no cinema. No écrã, suspiramos, geralmente, com as nossas histórias românticas favoritas e na vida real vamos suspirando, mais ou menos, consoante o estado de paixão ou a intensidade dos amores que vamos vivendo. Há frases que ficam realmente muito bem no cinema. Ou na literatura, dá no mesmo. São muito bonitas, absolutas, fazem-nos querer eternizá-las e quiçá experimentá-las, já que muitas vezes a vida imita - e quer imitar - a ficção. No entanto, por vezes é muito difícil reproduzi-las na realidade, sobretudo aquelas em que há um desvelo total pelo outro, revelando um amor tão forte em que um se propõe a fazer tudo pelo outro (ou ambos). Chamar-se-á a isto abnegação. E aqui é que as coisas se complicam. À exceção do amor pelos filhos, nenhum amor físico, erótico, me parece merecer o abandono da vida e dignidade próprias, se a isso tiver de levar essa tal renúncia a nós mesmos. Essa frase de ser capaz de fazer tudo pelo outro é talvez entendível no estado de paixão inicial mas já não o será a nível do amor mais maturado e até mais quotidiano. Na verdade, é estranho esse abandono de nós mesmos se levado a um alto ponto, se levado ao extremo. Aqui há uns anos vi Ondas de Paixão, um filme inquietante, que me perturbou imenso. Se bem me lembro era uma história em que o amor tocava esse extremo, ou melhor, em que o amor pelo outro era tal que se abandonava a dignidade própria e se fazia tudo, literalmente, ou quase, pelo outro. Acredito que haja almas muito apaixonadas e muito emocionais que se deixem levar pelas ondas de uma avassaladora paixão. Mas acredito que há outras que, mesmo apaixonadas, conservam sempre um pingo de racionalidade e de amor próprio. Desvelo total pelo outro versus ego, também é possível. E também entendível, já agora. Os excessos são perigosos, para além disso. Um certo distanciamento é natural, mesmo quando a flor da paixão brota e cresce intensa e rapidamente. O único grande amor que não conhece qualquer espécie de ressalva nem de salvaguarda pessoal é o amor por um filho. O resto é mesmo substituível, sempre. Sabemos que sim. Isso não quer dizer que não amemos e façamos até uma jurita de vez em quando - há quem o faça amiúde, e não quer dizer que dure igualmente. Interessa é estarmos bem no amor, de forma verdadeira, com ou sem palavras bonitas e absolutas. Nós e o outro.
Sou capaz de considerar a sua conclusão demasiado redutora. O conceito de amor é muito subjetivo.
ResponderEliminarAbraço
Eu diria mais : pouco romântica e muito racional. :)
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