Interrogamo-nos muitos nesta altura sobre o facto dos tradicionais aliados dos EUA e da Europa no Médio Oriente, de maiorias muçulmanas, não enfrentarem de forma aberta a ameaça do Estado Islâmico, sabendo-se ao invés que esses governos, ou pelo menos setores das suas sociedades, financiam os terroristas mais temíveis do momento. Falo nomeadamente da Arábia Saudita e do Qatar. E da Turquia, claro. Trata-se, sobretudo no caso dos primeiros, de estados ricos da região que têm mantido relações de interesse, perdão, amizade com os países a ocidente. Espantosamente, o estilo de vida destes países do Golfo em nada é secular, as igualdades ainda são uma miragem, apesar dos petrodólares, e muito provavelmente quanto mais virem outros aderir à lei islâmica e à sharia melhor. A Al-Jazeera, uma televisão da qual se disse ter revolucionado o mundo árabe, mostrando os seus podres e as suas fraquezas à escala regional e global, tem a sua sede no Qatar. E aquilo que nos parece ser uma televisão livre e sem censura, virada para a modernidade, não é mais do que um instrumento de propaganda que serve os seus sustentadores. Na verdade, quanto mais desestabilizados estiverem os estados mais seculares das arábias e Magrebe, mais o radicalismo político e social crescerá, ainda que com aliciantes fundamentalismos religiosos. O que vem agora a comprovar-se com o EI de forma mais assustadora e letal, face às suas práticas bárbaras e à sua meta de expansão de território. Se atentarmos bem, a televisão do Qatar tem mostrado e mostra bem o desnorte e o desconforto existentes em vários países de língua árabe ou de confissão muçulmana mas nunca faz o mesmo em relação ao seu próprio estado e sociedade. Como se o Qatar e a Arábia Saudita fossem modelos de sociedade perfeitos e sem máculas. E quem conhece estas realidades sabe que são ditaduras, islamizadas e sem margem para desvios. Mesmo se mascaradas com opulência e fartura. Por um outro lado, se se tratar do Irão, ainda que com uma sociedade fortemente islamizada, há todo o interesse em que caia, por ser xiita, mas o mesmo já não se passa relativamente às organizações ou movimentos sunitas, como é o caso do EI. A hipocrisia e a incoerência das alianças chegam, neste ponto do globo, a contornos descaradamente incríveis. Seja em nome da religião ou da economia ou da supremacia ou da história. Nada do que parece é. A palavra al-jazeera quer dizer a ilha. Um nome simbólico que traduz a dificuldade que é chegar ao entendimento destas encruzilhadas políticas e geográficas.
A hipocrisia do Ocidente é repulsiva. Tem na Arábia Saudita e no Qatar dois dos seus principais aliados, independentemente do número de vítimas que essas alianças "custam".
ResponderEliminar:(
Uma hipocrisia muito pouco inteligente, ainda por cima. Porque depois se vira o feitiço contra o feiticeiro.... e de que feitiço estamos a falar: medooooooo. :)
Eliminar