Aqui há
tempos dizia eu que não gosto de palavras comedidas e de como o understatement
pode levar a equívocos. Um dos meus queridos leitores comentou, então, que é
preciso prudência nas palavras. Respondi, na altura, que não sou fã da
prudência verbal, que aprecio que as coisas sejam ditas. Ficou-me este pequeno
diálogo na ideia.
Terei, pois, de ser
mais clara e dividir as palavras em duas categorias. Na verdade, considero que
devemos ser contidos quando as palavras são más, ferem ou quando podem mesmo
aniquilar algo. Sobretudo no calor de alguma emoção mais forte. Dou total razão
ao meu interlocutor. Devem estas palavras ser pensadas e mesmo retidas, ficando
para outra altura, apesar de poderem ser expressas de uma outra maneira, se não
se pretende iludir a verdade. Pessoalmente gosto das palavras diretas, que não
deixam margem para dúvidas e angústias de interpretação. Mas sou defensora da
existência de um cuidado extremo com as palavras negativas. Que nem sempre
temos, claro. Que muitas vezes não temos.
Qual a
vantagem em ser-se direto se essa franqueza apenas magoar? Se apenas atinge o
outro e sobretudo de uma forma que o outro não merece? Aí, as palavras devem
ser refletidas, sem dúvida. Até porque decerto agradeceremos que o façam em
relação a nós. Com o poder das palavras, podemos crescer ou morrer, pois elas
podem engrandecer-nos ou diminuir-nos brutalmente. Defendo a verdade mas não a
todo o custo. Há muitos tipos de verdade, temos é de saber dizer as
fundamentais e as precisas, não as outras.
Mas quando
dizia que não gostava da prudência, referia-me às palavras boas. Àquelas que
nos beijam e acariciam, àquelas que nos enlevam e fazem levitar, àquelas que
nos cativam e nos mimam. Nunca acho que se diz demasiado quando se trata destas
palavras. Há quem as trave, as feche a sete chaves mas há muita felicidade que,
infelizmente, tranca dentro de si, felicidade alheia e de si próprio. Por medo,
por arrogância, por insegurança, por timidez, por incapacidade, por altivez,
por tudo ou nada, não se dizem palavras positivas tanto quanto seria desejável.
Muitas vezes
elas não saem cá para fora e a oportunidade passa. Esse é o maior perigo. O de
deixar passar a oportunidade de dar a conhecer quão bons achamos nós os outros.
Deve sempre dizer-se o que se gosta a de quem se gosta. Não basta gostar, é
preciso dizê-lo. Até porque as pessoas podem não o perceber e mais felizes
serão se tiverem essas certezas, Obviamente que partimos do princípio que
estamos a dizer o que sentimos, a verdade.
Há alguns
anos, uma colega dizia-me que para ela não eram as palavras que contavam mas os
atos. Sem dúvida que não pode haver desfasamento entre palavras e atos se se
tratar de amor. Mas não estamos a falar só de amores mas sim de reforços
positivos, quotidianamente. Palavras que levantam o astral, palavras que dão
autoconfiança, palavras que fazem mover quem vive. De apreço, reconhecimento,
amizade, elogio, encorajamento, apoio, conforto, compreensão, devaneio, entre
tantas outras. Palavras que nos fazem passar melhor os nossos dias.
Não sejamos
prudentes com as boas palavras. Não as esqueçamos de as dizer, não as
retenhamos à espera de não sei o quê, não as tranquemos ad eternum. Usemo-las,
amiúde e sem entraves, para o bem de todos. E isso inclui-nos, claro está, a
nós.
(texto escrito expressamente para o bahia mulher)
As palavras são como punhais...
ResponderEliminarSe são...
ResponderEliminarLá está, o poder das palavras... Como sabes, meio mundo não diz aos seus próximos o quanto gosta deles. Era bom que as pessoas tivessem menos dificuldades em expressar o que sentem... Marla
ResponderEliminarEra, era, Marla. En tout cas, não creio que seja o i love you que defendo:) É mais o uso das palavras boas e positivas:) Que sim passa por dizer aos outros as coisas boas que têm e fazem:)
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