"(...) A companhia ilustra, de forma emblemática, a estupifidicação e a degradação do indivíduo por obra do grupo (...).
em Amizade, de Alberoni
Em inglês, a expressão peer pressure é habitual aparecer referida quando se fala dos problemas dos adolescentes e traduz-se por qualquer coisa como pressão de/do grupo (pares). Tenho para mim, e já não será a primeira vez que escrevo sobre isso, que a estrutura e rituais de grupo tendem a aniquilar sobremaneira os traços de individualidade caraterísticos e naturais de qualquer ser humano. Ao pertencer-se a um grupo está-se, automaticamente, a entrar num código (com frequência fechado) de valores e atitudes que tendem a exaltar o coletivo em detrimento do individual. Temos na língua portuguesa, de resto, uma tirada de sabedoria popular que todos conhecemos "Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és" que não deixa de ser altamente exemplificativa da ideia que tem vindo a ser desenvolvida até agora. Isto acontece porque o grupo acaba por fazer (aos jovens?) um ultimato do género - ou és como nós ou não tens valor, ou ages como nós ou não podes pertencer aqui, entre outros.
Porventura tendo mais valia e mais talentos do que aqueles apregoados pelo grupo, o indivíduo acaba, pois, por anular a sua própria vontade e capacidade de opinião faca à força da companhia. Alberoni di-lo claramente e nestes termos: "Mesmo quando os participantes, individualmente, são inteligentes e vivos, mal entram na "companhia" diminuem-se totalmente." Sem dúvida. Até porque as conversas de grupo tendem a ser completamente tolas e banais, não dando espaço de manobra para o real valor de alguém com aquelas qualidades. Voltando a falar dos jovens, quantas vezes não se diminuem? Quantas vezes não optam por certos comportamentos porque não sabem dizer não e se sentem pressionados, ainda que não declaradamente, pelos seus pares?
Com isto quero dizer que não há grupo de "amigos" que mereça o sacrifício dos nossos valores ou, dito de outra maneira, que não se pode vender a consciência em troca de elos fraternais passageiros, e mesmo inexistentes, ou de prestígio postiço. Não podem os nossos amigos retirar-nos liberdade de ação, em caso algum. Assim como não se pode abdicar da originalidade e da sensibilidade quando elas nos são negadas por maiorias, em organizações ou grupos doutro género. E muito menos podemos não valorizar as nossas potencialidades e qualidades (misturadas com os nossos defeitos, naturalmente) em função dos falsos modelos de felicidade e sucesso que tantas vezes nos querem impingir.
Para os jovens, é importante reter uma mensagem: a de que a amizade verdadeira respeita incondicionalmente a sua maneira única e exclusiva de ser. Para os menos jovens, a de que o grupo, de amigalhaços ou outro, não pode abafar a opinião e a essência. Porque o faz, amiúde, e se o fizer, então, está comprometida qualquer individualidade.
Jornal O Recado, ESAP, ligeiramente adaptado
Boa tarde, Fátima.
ResponderEliminarConcordo na generalidade, embora ache que as necessidades de aceitação e de pertença façam parte integrante do ser individual, ou seja, o indivíduo, per se, pode retirar grandes benefícios da sua experiência entre pares. Por outro lado, há sempre "o líder", o que na sua plenitude mais se excede ( e exibe) como pessoa integrante do grupo. O contrário? O contrário é a regra. A que tão bem descreve.
:)
Olá, Paulo, bem vindo:) Tem toda a razão acerca dos benefícios colhidos entre pares:) Essa seria outra perspetiva, decerto; aqui tentei apenas dissertar um pouco acerca dos malefícios:) e da importância (pelo menos para mim:)) de manter o eu no meio do coletivo. Obrigada pela visita.
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