julho 26, 2014

Familiaridade e profissionalismo



Considero-me bastante informal e absolutamente simples em termos de etiqueta e protocolo mas faz-me confusão quando se é demasiadamente familiar em contextos profissionais, sobretudo quando não há qualquer tipo de relação pessoal entre os intervenientes. Relato aqui três situações em que o excesso de à-vontade disfarçado de desejável simpatia me gelou instantaneamente a espinha. Porque continuo a considerar que o profissionalismo tem de passar por um outro (bom) tom.
1- Uma das assistentes sociais com quem articulei (na esfera do trabalho inerente ao caso de alunos com processos no Tribunal de Menores) pediu-me que lhe enviasse informações. Nunca vi a senhora e os meus (poucos) e-mails foram sempre cordiais, diretos e profissionais, como não poderiam deixar de ser. Na sequência do último, recebo as seguintes palavras: Olá, olá, mt obrigdinha (...) bjinhs (..). Obviamente que mal não vem ao mundo por causa disto, bom seria que todas as complicações fossem deste grau, mas realmente não me lembro de ter estabelecido com a pessoa em causa uma relação que justifique estes termos.
2- Nasceu uma priminha há 3 semanas e fui comprar-lhe umas roupas cor-de-rosinha, claro. Desloquei-me a uma loja onde habitualmente compro gangas e t-shirts para rapaz. A empregada que lá está na maioria das vezes fala muito e sorri muito, exageradamente, pois, mas lá se tolera porque não está de trombas (ainda é pior). Mas desta vez, e com várias pessoas na loja (é um espaço pequeno), perguntou em voz estridente se eu, como comprava coisas de menina, estava grávida. Senti um calafrio de alto a baixo. Na verdade, irritou-me estar a entrar dentro de uma intimidade que não partilhei, até porque não seria possível, de todo, fazê-lo. Respondi que não devia fazer essa pergunta, pois era e é íntimo (e é, até ser visível) e que as pessoas podiam não gostar. Pediu desculpa, ao menos. Mas confirma-se a simpatia pegajosa.
3- Há uma família muito simpática à frente de uma pastelaria aqui perto e onde vou quase diariamente. Mas, insisto, eu gosto do atendimento atencioso q.b., ou seja, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Há uma miúda que está a atender há algum tempo, é novita, com uma carinha muito bonitinha. O problema é que me trata por tu (não sei se é por influência venezuelana, de onde são todos oriundos) e está sempre a dizer "querida" (algo que geralmente só concebo de mais velha para mais nova ou entre pares) e a fazer perguntas completamente descabidas e atrevidas, situações a que vou respondendo com um sorriso a amarelecer ou com uma observação curta de outro tipo. O meu respeito pelos elementos mais velhos da família não me deixou ainda fazer uma observação maior.

4 comentários:

  1. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, às vezes é difícil encontrar o meio termo.Continuação de bom fim de semana.

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    1. É isso mesmo, Aliete. O que acontece é que demasiada familiaridade em contextos profissionais não tem o meu apreço. Posso desculpar e até achar graça, mas a noção que tenho de competente profissionalismo, essa vem abaixo. :)
      Obrigada, bom domingo.*

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  2. As manifestações de boa educação do Tuga são simples, principiam no 'Obrigadinho', prosseguem no 'Desculpe lá' e terminam no 'Cossessa' *.

    * Com licença em "tuguês"

    Abraço

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  3. :) Já tinha lido esta abordagem no seu Bons Tempos Hein :) É exatamente isso!

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