junho 10, 2014

Boulevard da solidão


Na semana passada, apareceu um daqueles quizzes/testes engraçados online que vamos fazendo não sei bem para quê, é certo, mas que nos vão descontraíndo de alguma forma. Este era `What nationality are you?` e depois de responder a uma série de perguntas lá vi, sorridente, o meu resultado: `Irish`.  Compreendi, pois, finalmente a minha atração pela Irlanda, sem nunca ter lá estado, que vai desde a paisagem às diferentes formas culturais e artísticas, música, literatura, cinema, e vai daí, num instantinho, ao ator Colin Farrel. E não sendo exatamente por essa descoberta, a verdade é que me tenho dedicado a ver alguns filmes deste ator durante esta semana, online e no original (quão mais pobre seria o meu mundo, aquele que me interessa, se não soubesse inglês). Vai daí também que vou abrir um capítulo dedicado a este irlandês - e sim, adoro o sotaque - para escrever umas coisitas sobre os filmes. Para já, começo com "London Boulevard", cujo título em português é "Crime e Redenção".
Pelo que li, as críticas não lhes foram, ao filme e ao ator, muito favoráveis. O que também não me influencia nada, porque se trata de um filme com aspetos bem interessantes para explorar, apesar de não ter gostado do final por razões evidentes. A película tem um óbvio toque Sunset Boulevard / O Crepúsculo dos Deuses, desde já pela ligação da personagem de Colin com uma atriz "retirada" e reclusa na sua mansão, aqui por razões que nada têm a ver com a idade ou a passagem ao cinema falado. A violência e alguma loucura do filme lembram as obras de Quentin Tarantino (banda sonora a condizer, muito boa)  mas com uma diferença considerável - o ator principal, graças aos deuses, é a estampa que sabemos, o que não me parece que seja o estilo preferido dos críticos, homens 99, 9%, que assim rebaixam a prestação do ator em inúmeras fitas, e de alguma audiência masculina que teima em fazer o mesmo e aposto que pelas mesmas razões, ignorando completamente a notável capacidade dramática do mesmo, até só pelo olhar. E a atriz Keira Knightley é provavelmente muito clássica para uma parte de público que prefere o estilo cruzar de pernas de Sharon Stone, enfim, gostos não se discutem, diria.  Eu cá gosto dos britânicos e dos irlandeses muito mais do que gosto dos americanos, a ter de escolher. Coisas, inexplicáveis ou talvez não.
Na verdade, e seguindo adiante, trata-se de um belíssimo filme sobre a solidão. E do que gosto mesmo é dessa fragilidade humana no meio de um mundo louco e adverso que contraria as suas expetativas e desejos mais interiores. E como é difícil, por vezes impossível, resistir às avalanches  do mal, a violência,  a invasão da privacidade e a pressão de vários tipos. A bondade não triunfa sobre a crueldade, não sempre, não tão frequentemente quanto desejável, não sequer na ficção. E nem mesmo o amor chega, mesmo e sobretudo o que nasce do desamparo, da desesperação e da absoluta necessidade de conforto emocional extremo.
Gostei, resumindo, desta perturbante  incursão pela cruel negação da felicidade e por último registo aqui provavelmente as mais belas palavras que ouvi e se podem ouvir quando se encontra o amor: - " If I fell in love with you, what would you do about it? - Anything. ... Everything."

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