maio 03, 2014

Conhecer é poder ou querer poder

               
  
Afazeres profissionais intensos e consequente cansaço têm-me afastado da blogosfera. E conseguiram uma proeza no dia do trabalhador: pôr-me a preguiçar, a ver televisão no sofá, como já não fazia há muito. De uma assentada, vejo dois filmes, apesar de não os apanhar totalmente desde o início. Duas biografias, diferentes, mas que no fim lá liguei através de frases emblemáticas ou filosofias de vida que me chamaram à atenção.
1 - a primeira, mítica e de culto para alguns, nada intelectual e desinteressante para outros - a vida de Bruce Lee. Nada de profunda erudição e ainda assim reveladora de uma força de alma incomum, de um percurso, infelizmente breve, a desbravar fronteiras culturais, físicas e psicológicas. O trazer a beleza da cultura chinesa para a cultura americana de origem anglo-saxónica, neste caso, como forma de fazer frente ao desconhecimento, e, desta forma, ao medo, ao preconceito e às barreiras instaladas. Conhecer é assim aproximar, contribuir para a harmonia, ser feliz. 
2- a segunda, mítica e de culto para tantos, provavelmente insuportável para outros - a vida de Che Guevara. Ou melhor, parte dela. O filme a que assisti é a segunda parte da fita dirigida por Steven Sodebergh, e é centrada na guerrilha na Bolívia, onde, de resto, haveria de sucumbir. Um filme belíssimo, falado em espanhol, que nos deixa espreitar uma visão de sociedade perfeita, idílica, é possível, com erros pelo caminho, mas profundamente justa. A viagem pelo continente sul-americano que fez enquanto jovem marcaram a sua posição política, social e até filosófica. Como conhecer o que pôde conhecer, vendo e sentindo, e não querer alterá-lo? Da mesma forma, esta Bolívia de contrastes chocantes e indignos, com níveis de pobreza campesina atrozes, não era justa em 1967 e não sei se o será hoje - duvido. Aqui o conhecimento não traz propriamente felicidade. Conhecer, aqui e assim, é querer agir, é não conseguir sossegar, é ter de intervir, ainda que pagando um preço altíssimo. 
Os dois filmes ligaram-se nisso mesmo - na forma como o conhecimento nos pode apaziguar e tranquilizar e na outra forma, naquela em que o conhecimento nos pode inquietar, perturbar. Assim, desconhecer é sinónimo de temer, de hostilizar e ao mesmo tempo conhecer pode ser e é sinónimo de participar, de atuar. O conhecimento pode trazer alegria e harmonia e pode trazer sofrimento, consciência. Trata-se, pois, e unindo as biografias e os pensamentos que me assolaram, de uma poderosa arma contra a intolerância e a injustiça que pode alterar uma vida, almejando-se alterar muitas.

2 comentários:

  1. Nunca me tinha passado pela cabeça estabelecer uma comparação entre Che Guevara e Bruce Lee que aliás, conheço muito mal.
    Assim sendo apenas acrescento que Che quis mudar o mundo e é dele uma afirmação que faz parte do meu ideário de sempre. Se és capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.
    Um abraço

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    1. Um dueto improvável, portanto, para isso é que estamos cá, para abrir novas pistas :) :) Os dois são gigantes em termos de força interior, daquela que muda uma vida ou muitas vidas. :) Beijinho

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