maio 15, 2014

De profundis país lento


Tenho, este ano, no âmbito da minha atividade profissional, vivido experiências brutalmente enriquecedoras apesar de brutalmente desgastantes. Muitos são os pensamentos que delas surgem, impossíveis de registar, atempadamente e por escrito, aqui ou em qualquer outro lugar. Mas uma conclusão pode ser aqui assinalada: a de que tenho mantido, ao longo deste ano, um intrigante e desolador contacto com o Portugal profundo. A modernidade existe, sim, comparada com tempos idos, mas é minoritária e citadina, intelectual e, por contraste, consumista. O resto, tudo o resto aponta para um país ainda muito atrasado, com baixos níveis de conhecimento, de cidadania, de esclarecimento e de pensamento.
Qual o impacto disto tudo na escola? Bom, uma taxa de abandono considerável, ainda, uma falta de ambição cultural e pessoal assustadora, posturas inaceitáveis que as famílias, pouco esclarecidas e, por vezes, mesmo sem maneiras, não conseguem controlar, um desinteresse chocante pelo conhecimento, alheamento do mundo para lá das novas tecnologias e das experiências típicas da adolescência, ignorância natural e cultivada que roça a boçalidade, desrespeito por todo e qualquer tipo de regras e de autoridade, taxas de sucesso baixíssimas e, para as aumentar, fabricadas, enfim, um país atrasado, deprimente, ignorante, com a mania que é rico e que é injustamente desprezado, apostado em ter, ter cada vez mais, e esquecendo completamente o ser.
Também é verdade que este ter o é cada vez menos. As dificuldades económicas só agravam este desalento social, estas psicoses várias que assolam as famílias, as pessoas, a parentalidade, e como consequência, os filhos e os filhos na escola. 50 anos de reclusão obrigatória fizeram-nos muito mal. Persistem dificuldades dessa altura, na cabeça e, como consequência, nos atos. Mas este descalabro financeiro atual tem, certamente, um efeito altamente negativo na melhoria das condições de vida, desnorteando ainda mais aquilo que não estava ainda solidificado.
Hoje coloquei um post no meu FB profissional para que os alunos lessem. Como gostaria que o lessem e interiorizassem. Só assim poderiam e poderão sair destas profundezas em que ainda nos encontramos, assim que saímos da cidade, do teatro ou do centro comercial. A nossa marcha está a ser muito lenta, é possível que estejamos até a andar para trás. Cruzem os braços, cruzem. Fiquem à espera de milagres. Assim não se vai lá.

2 comentários:

  1. País lento e pior ainda,país lerdo.
    :(

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Lerdíssimo. E assim continuará se se insistir no desconhecimento e na desinformação. Se ao menos se pudesse perceber isto desde cedo...

      Eliminar