agosto 03, 2012

Com medidas


Genericamente, não aprecio palavras comedidas. Não gosto de palavrões, tolerando-os se misturados com verdadeiro humor, espontâneo, louco e nunca em anedotas idiotas e com pessoas que acabo de conhecer. Gela-se-me a espinha toda, se assim for. Mas o comedimento de emoções e de atitudes que produz palavras parcas e sem chama, que nunca nos elevam, enlevam nem aquecem, também não. Deve-se dizer as coisas boas quando as sentimos. Assim, sem mais nem menos. Muitas vezes as pessoas não dizem e depois passou o tempo. No filme "Os despojos do dia" a personagem de Anthony Hopkins não diz a tempo o amor que sente pela de Emma Thompson. Um dia perde-a para sempre, mas é tarde demais quando se apercebe das palavras não ditas. O understatement pode nunca ser bem interpretado. E isso pode afundar alguém numa grande infelicidade. As palavras medidas e comedidas são uma grande chatice. Há quem espere por palavras boas e animadoras e nunca as ouça. Há até quem as trave, de propósito, para nunca dar esse gosto. Uma espécie de crueldadezinha que muitos professam, fruto de caráteres mais invejosos ou secos. Como lhes custa deixar sair uma palavra amável, elogiosa, reconfortante. Outros parece haver que, bondosos, revelam uma manifesta incapacidade em expressar os sentimentos melhores. O resultado é o mesmo - por muito diferente que seja a essência, a verdade é que não chegam ao coração, não nos cativam. Mas isto a propósito das palavras que precisam de espontaneidade. Raios partam a contenção dos discursos que não deixa margem para a ousadia, para o entusiasmo, para a clareza ou para os afetos. E para a (auto) estima. Raios partam as palavras (ou a ausência delas) que não sabem deixar ninguém feliz.

6 comentários:

  1. Ou infeliz, ou o que for... Concordo com tudo. Por vezes acho que abuso das fortes, mas honestamente, acho que já nem sei viver de outra forma...

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  2. Pois eu cá, Carla, sou fã das pessoas autênticas:), sem subterfúgios. As palavras travadas e contidas fazem-me impressão... embora ache que há cuidados a ter quando as palavras são expressas para deixar os outros infelizes...

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  3. É preciso ser prudente com as palavras. Mudam de opinião como as pessoas.
    Assim falou Saramago.
    bfs
    :)

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  4. Gosto de palavras fortes e diretas mas fundamentalmente positivas:) Não sou, regra geral, fã da prudência:) Como eu a entendo, claro:) Mas é óbvio que há cuidados a ter... momentos, locais, pessoas, tudo. Inteligência emocional, jrd, é essencial.

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  5. Raios partam quem nunca ousou... Lília

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