fevereiro 11, 2014

A história do bloguista


Num dos blogues que mais admiro, "Kyrie Eleison", o meu colega de blogosfera que também é de profissão, dizia e bem no outro dia, na sua caixa de comentários, que nem sempre os nossos posts têm cariz autobiográfico. Assim é. Nós podemos escrever, bem ou menos bem, até mal, sobre coisas que serão nossas, sentimentos, impressões, opiniões, experiências passadas ou presentes, medos, anseios, gostos, enfim, podemos ir pelo caminho que revela a nossa personalidade - ou muito dela. Porque o nosso mundo é maior do que o do blogue, graças a deus, e portanto há muita faceta e dimensão que não está lá espelhada, seja por escolha ou incapacidade. Ou por outra razão qualquer.
Mas dizia-se aqui que os nossos textos, grandes ou pequenos, bons ou maus, não passam exclusivamente pela demonstração daquilo que somos. Acontece-me escrever a pensar em alguém em específico, ou porque vi algo no cinema, ou ainda porque li uma coisa que ficou a remexer cá dentro, ou ainda porque faço uma generalização do que vejo, ou tantas vezes porque idealizo e intelectualizo determinado aspeto ou circunstância, e isto tudo sem ser sobre mim diretamente. O cunho na análise pode ser meu, é-o certamente, mas não tem a ver com a minha vida, de todo, ou já não tem, ou ainda não teve. Acontece-me ver, ouvir, ler, observar, sentir algo e vir aqui dissertar - ou tentar dissertar - um pouco sobre isso. Quanto menos vir, ouvir, observar, sentir, menos material terei para opinar ou refletir. Bem ou mal, repito. 
Da mesma forma, não se pense que não temos direito a mudar de opinião. Excetuando os valores, há perspetivas que podem ser alteradas. Evolui-se, amadurece-se, ganha-se experiência. Tudo isto pode mudar a nossa visão sobre alguma coisa. Um post escrito há anos atrás pode ter, portanto e entretanto, ganho outro ângulo. Posto isto, a escrita continua. Ou os registos que somos capazes de fazer. Ou que pensamos que somos. Uns dias mais intimistas, é um facto, outros nem por isso e outros, ainda, de todo. Os posts são como são. Que não se veja muito para além do que eles são - incursões no momento pelo nosso mundo, interior, é possível, e não.

7 comentários:

  1. A palavra chave deste seu post, Faty, está quase no final e, na minha opinião, é esta: "experiência".
    Com as devidas distâncias, quem procura descortinar uma intimidade qualquer através de um texto de um blogue é quem também procura na biografia de um escritor o que justifica determinado assunto num romance ou outra obra.
    Não há uma relação causa/efeito entre o vivido e o escrito, mas o que determina o que escrevemos é sempre a nossa experiência. O que escrevemos não foi necessariamente o que vivemos (ás vezes sim, às vezes não), ou não inteiramente assim, do modo como está formulado, porque é sempre uma mistura de sentimentos, vivências e experiências, nossas e ou de outros, racionalizadas.

    E, no entanto, muito de nós (mais do que imaginamos) revela-se também na escrita.
    (Não sei se pareceu demasiado confuso ou contraditório, mas hoje também não estou exactamente "nos meus dias"...)

    Beijinho

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    1. É verdade, embora a escrita também possa ser uma expressão artística, podendo ser conscientemente fabricado um estilo, ou até vestir-se a pele de um personagem. Tudo é possível. :)

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  2. Ó Fátima, mas há tanta gente a tentar ler entre linhas e com opinião certificada de cada blogger. A minha experiência diz-me que no preciso momento em que assumi o meu nome fui (e sou) escrutinado até à medula. Sou velho ou novo; casado ou disponível:) ; feio ou giro; parvo ou inteligente, etc. Neste caso o anonimato é um brinco. No meu caso, só avalio textos: bom, com humor, soturno, com qualidade, com interesse, informativo. E todos eles podem (ou não) caber numa só pessoa

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    1. (peço perdão, ficou tudo truncado e trocado, mas aproveito para corrigir "entrelinhas" :)

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    2. Sim, esses "certificados" hão de surgir. E, no entanto, Paulo, sabemos que se passam muitos certificados sem real conhecimento :):) O anonimato é benéfico, sim, às vezes penso que o deveria ter feito. Seria mais livre, acredito. E sem foto, ainda mais.
      Está obviamente perdoado :)

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    3. Posso comentar assim?

      «Les choses visibles peuvent toujours cacher d'autres choses visibles». René Magritte

      Abraço

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    4. Pode, sim e sempre. A sua cultura, graça e tiradas na mouche são mais do que bem vindas. :)

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