abril 26, 2013

A confissão do medo


De um modo geral, mas bastante claro, as pessoas oferecem muita resistência à confissão do medo. Como se confessar que se tem medo pudesse significar ausência de bravura. Ora, pode ser-se corajoso e avançar adiante e, ainda assim, ter medo. Porque este, em muitos casos, pode significar apenas uma grande dose de humildade face àquilo que é a condição humana e àquilo que, frequentemente, não podemos controlar. Assumir a vulnerabilidade face a coisas como sérias doenças e tragédias iguais ou maiores não devia ser visto como falta de coragem, porque não é, mas a verdade é que se tende a escamotear muito aquilo que verdadeiramente se sente.  
Resumindo, as pessoas não falam a verdade. Sobretudo sobre elas próprias e as suas angústias interiores. É um facto que há indivíduos altamente mentais cuja fria racionalidade os faz, pelo menos aparentemente, parecer imunes ao sofrimento. Ou ao medo do sofrimento. Mas mesmo esses, mais cedo ou mais tarde, terão um revés que nunca haviam antecipado. E de nada lhes valerá essa natureza feita de ferro, sobretudo a nível do controlo do seu percurso. Estão tão expostos como os outros, os que sentem mais e que admitem o medo que lhes vai lá dentro.
Há dias, vi a atriz Fernanda Serrano na televisão falar do seu conhecido problema de saúde, já ultrapassado. A sua sensibilidade e sobretudo a verdade que saiu das suas palavras deixaram-me sensibilizada. Confessou o grande medo que sentiu, pois outra coisa não seria de sentir. Estas pessoas verdadeiras, que não aligeiram as dificuldades, têm todo o meu apreço. E sinceramente cada vez menos me apetece falar com as outras, com as insensíveis e superficiais, sobre problemas sérios para os quais não têm, obviamente, capacidade de empatia. Ou verdade. A máscara está sempre colocada. E eu gosto pouco de jogar ao carnaval.


6 comentários:

  1. Aliete Vieiraabril 27, 2013

    Olá Faty tudo bem?Tenho passado por aqui sem comentar.Eu não tenho medo de confessar que tenho medo.Como esposa, mãe e avó, tenho medo de tantas coisas; medo do futuro, medo de doenças,medo de catástrofes,medo da morte, então só gosto de pensar em coisas positivas que façam os meus dias bonitos.Beijinhos e bom fim de semana.

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    1. Olá, Aliete. Sem dúvida que nos devemos concentrar nas coisas positivas, nem é saudável falar de medo a tempo inteiro, o medo paralisa, é péssimo. Sobretudo o medo que retrai a ação. Mas o post refere-se a medos perfeitamente naturais e que as pessoas escondem, não decorrentes do otimismo (este pode existir mesmo conhecendo-se as dificuldades), mas da hipocrisia geral. Um grande beijinho para si *

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  2. O medo existe e, por vezes, o pior medo é o medo que temos do medo dos outros.

    Boa semana

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    1. Concordo... o medo dos outros pode ser contagiante. Também é verdade, e não é bom. Obrigada, jrd, também para si.:)

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  3. O que a Fernanda Serrano fez foi um ato de coragem e admiro-a por partilhar algo tão natural que é ter medo de um cancro e das suas consequências. É perfeitamente normal termos medos e é importante assumi-los. Porque a vida é mesmo assim, feita de bons momentos e momentos menos positivos, marcados por angústias, incertezas, receios e tantos outros sentimentos... Mas uma coisa que eu sei é que as pessoas, de forma geral, não estão muito interessadas em ouvir os problemas, angústias e medos dos outros. As pessoas preferem que estejamos sempre felizes, bem dispostos e divertidos... Marla

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