outubro 15, 2011

Momento


A entrevista de Lobo Antunes foi um momento de serena e inspiradora pausa no meio do alucinante (des)informativo e estupidificante lúdico que grassa, de modo geral, nas televisões generalistas. E foi  porque nos leva a ouvir, a interiorizar, a refletir, a ir mais além. Porque significa escutar, beber as palavras, aprender, evoluir. Não é um homem que nos faça rir ou nos entretenha, ao invés é de uma honestidade brutal, as partilhas vêm do profundo âmago, sem piadas, sem mentiras, mesmo sem certezas.  Espanta-se ele com as certezas que tantos exibem facilmente, reconhecendo rapidamente as mentiras por detrás das aparentes seguranças. Não há verdade. E, desta forma, políticos iludem e depois desiludem, a cultura, porque expressão das verdades, não tem nem pode ter lugar, o país afunda-se na mediocridade e na deceção.
Que momento de introspetivo (re)conhecimento nos deu. Como a escrita e a reflexão nos podem dar sábios de exceção, como a tolerância e a visão nos dão a conhecer humanistas de primeira. Haverá quem não tenha visto não por opção mas também quem o terá feito, mudado de canal para programas mais vorazes, que não obriguem a parar e pensar. Pois a crise também é n/do espírito. Há uma demissão generalizada em relação ao pensamento, ao silêncio, ao confronto interior, ao (auto) conhecimento, ao estímulo inteletual. Os prazeres sensoriais, materiais sobrepõem-se, de forma avassaladora, aos espirituais.
Precisa-se, exige-se mais momentos como este nas televisões mainstream, nos media em geral, na escola, na sociedade. Sob pena de não sabermos construir, criar, intervir, crescer. A cultura é fundamental para o desenvolvimento da humanidade, das sociedades. A cultura dos livros e das ideias, e também a cultura do amor e dos afetos, a cultura do conhecimento e da arte, a cultura da reflexão e mesmo do silêncio. Revigora-nos, fortalece-nos, enriquece-nos, abre os nossos horizontes, alimenta os nossos sonhos, promove momentos felizes. Como o de ontem, na RTP1.

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