Imensamente satisfeita com o tripartido Nobel da Paz deste ano. Sobretudo pela iemenita. De véu e de preto, pega no megafone e desfila pelas ruas a pedir liberdades num país cujo regime as vai negando. A primavera árabe teria invariavelmente de ser premiada. E vai daí que me lembrei de uma mulher que conheci há um ano atrás na Tunísia.
Estivemos à conversa sentadas cá fora, ao pé da pequena mercearia da aldeia, a tentar apanhar algum fresco dum pouco frequente vento que corria. Professora primária, de cabelo curto, sindicalista e ativista, de certa forma, dos direitos das mulheres num país ainda na altura sob a alçada de Ben Ali. Diga-se que, curiosamente ou não, o antigo regime apregoava e praticava a liberdade social no que dizia respeito às mulheres. A primeira-dama, odiada pela oligarquia e corrupção da família Trabelsi, dava, no entanto, exemplos de modernidade no campo social. Era-se livre para não usar véu (mais o lenço, na verdade), era-se livre para estudar, para trabalhar, entre outros aspetos menos e outros mais importantes.
Esta mulher que conheci falava-me da recente tendência das jovens tunisinas em quererem usar o lenço, por um lado como forma de desafiar o regime que reprimia subtilmente a liberdade religiosa dos muçulmanos, e por outro como objeto de moda. Estava assim na moda afirmar o lenço como acessório fashion e ao mesmo tempo como marca de identidade cultural. Dizia-me a professora, que nunca o usaria, e que não compreendia, desta e de uma certa forma, as jovens que o faziam, quando eram livres, como até ali, para não o usarem.
E ali ficámos a trocar impressões e ideias sobre a vida das mulheres e dos professores em ambos os países. Também lá a classe docente vinha a sofrer dos mesmos males que a nossa. Alunos cada vez menos motivados e mais indisciplinados, destratamento dos professores por medidas políticas cada vez mais globalizadas, burocráticas e económicas, desrespeito social por uma classe de educadores que já viu melhores dias. E eu a adorar esta conversa, a frontalidade e a força desta senhora, a espantosa liberdade que ostentava e de que, claramente, se orgulhava.
Porque há um ideia errada, erradíssima que as mulheres árabes ou são todas oprimidas ou todas submissas. Nem uma coisa nem outra. Há caminhos a percorrer, nos regimes e mentalidades dos seus sistemas políticos ou sociais, mas há muitas que têm uma voz. E dei por mim a pensar que aqui no "ocidente" onde as mulheres conduzem, têm emprego, votam, divorciam-se, e muito mais, tenho encontrados muitas que não têm, contudo, uma voz. Ou seja, apesar das liberdades todas, elas não são livres dentro de si. São modernas mas não são livres. Cumprem, criam em determinadas áreas até mas não intervêem. Não se ouve nem se conhece a sua "voz". Ou estarei redondamente enganada?
Também eu fiquei entusiasmada com estas atribuições. E, claro, não me parece que estejas enganada no final. A liberdade está, ou não está, dentro de cada pessoa. Cheers! Luísa Alc.
ResponderEliminarCada uma tem essa possibilidade dentro de si...mas poucas usufruem desse direito e até dever por vezes. Muitas razões estão subjacentes a essa atitude de passividade. Comodismo?
ResponderEliminarPassou despercebido este texto? Ou comodismo??? lol Obrigada por furarem essa tendência! ;) Sorrisos para vocês Faty
ResponderEliminar