Andava para escrever sobre isto há algum tempo. E há três dias atrás dei por mim a explicar o significado de Less is more ao meu CEF de Tratadores. Automaticamente, veio-me à ideia a vontade em abordar o conceito de simplicidade, essencialmente no que diz respeito à escrita. Havia lido um texto do AJS na Tabu sobre o tema e dei por mim a pensar nisso e a tentar, eu própria, dissertar sobre o que afinal significa ter um estilo simples.
Não gosto de ou me identifico com tudo o que AJS escreverá mas recordo vários textos dele precisamente por serem simples, provavelmente. Com isto quero eu dizer que a simplicidade é amiga da clareza e esta da compreensão e esta da memória. Mas estou eu a afirmar que AJS escreve de forma simples? Escreve - ele di-lo, aliás, e chega mesmo a dizer que sempre foi acusado precisamente disso, dos seus textos serem demasiado simples, toscos, quase primários na forma. Que chegam mesmo a duvidar que ele os reveja e faça correções, como se a simplicidade não fosse ela, também, árdua de conseguir.
Mas estas voltas servem o meu propósito: dizer que também eu aprecio a simplicidade na escrita. Registo muito mais a mensagem do que quando leio textos demasiado elaborados, densos, herméticos, intelectualóides, porque, muitas mas muitas vezes, tal emaranhado nos leva a uma maior dispersão. Relembro agora mesmo alguns nomes cujos textos são habitualmente complexos, não me cativando e criando desnecessários obstáculos à retenção da informação ou captação da mensagem para uma desejável posteridade. Quantas vezes não lemos nós textos dos quais nos ficou muito pouco algum tempo depois? (Estou, nalguns casos, obviamente, a ser simpática.)
Nesta altura, poderá dizer-se que assim acontece por défice cognitivo. Mas a simplicidade, de quem a aprecia e sobretudo a de quem escreve, não é um reflexo de uma inteligência menor. Apenas é um estilo que reflete, sim, uma capacidade, em princípio natural, a de ser mais eficazmente claro. Não é, portanto sinónimo, de pobreza. Pode ser (basta recordar textos de alunos com dificuldades) mas não é necessariamente. Sobretudo, e obviamente, em escritores de renome, jornalistas conceituados, bloguistas de qualidade e outros. Claro que aprecio uma escrita interessante e envolvente, um estilo criativo, mas realmente não obscuro, não indecifrável, não sinuoso, não confuso, não rebuscado, pois realmente não. E são muitos os textos simples absolutamente grandiosos. E como ficam na memória, como se eternizam até.
Pessoalmente, sou demasiado autista e distraída e mais uns outros defeitos em cima como ler pouco comparada com leitores, diria, profissionais, para ter um léxico erudito, culto e variadíssimo como desejaria. De qualquer forma, para lá das limitações e perceções de quem gosta de escrever, são afinal os leitores os grandes juízes em relação a como se escreve. Inevitavelmente - Is less more?