fevereiro 23, 2013

O campo e a cidade


Cada vez parece haver mais gente a deixar os seus empregos e estilos de vida citadinos e a optar por viver mais ligada à natureza, deslocando-se para o campo. Sobretudo quando se chega a determinadas faixas etárias. Estrangeiros já o fazem há anos e portugueses agora também. Uma vida mais natural, mais autêntica, mais tranquila, sem trânsito, sem stress, sem as pressões da vida urbana. Eu própria sinto muito mais o apelo da natureza, de uma existência mais calma do que há anos atrás. Era muito mais citadina, fazia-me impressão estar em locais bucólicos, queria movimento, a vida social e os locais urbanos eram-me muito caros. Nem pensar em trabalhar em escolas isoladas, em lugares ermos e sem nada à volta.
Ora bem, desde há alguns anitos a esta parte, as coisas mudaram, eu mudei. Vivo numa pequena cidade e adoro, tenho mar, campo e cidade perto (esta em que vivo e a maior, Aveiro, a cinco minutos), é só escolher o que me apetece e o que o(s) tempo(s) permite(m), há por aqui uma luz enorme (os prédios não podem ter mais do que o segundo andar), espaços para andar a pé, correr, andar de bicicleta, jogar ténis, piscinas, tudo aqui ao lado, e outras facilidades, ao ar livre, sobretudo, pois é aquilo que mais me revitaliza.
Mas a grande mudança e prova de que estou tão diferente é a localização da minha escola. No meio da floresta, perto da praia, é certo, mas no meio de uma mata protegida, a escola está longe da civilização, é verdade, não há nada perto que se possa fazer indo a pé. Tem um café em frente, vá lá, e umas casitas, mas é uma grande área que se abriga sob os pinheiros. Ora, há anos atrás, não gostaria de lá trabalhar, aposto. Mas coincidiu com a maturidade, digo eu, e portanto é-me apaziguador trabalhar no meio do verde, com os pássaros a chilrear, o vento a soprar, o barulho do mar a ouvir-se, o silêncio, o incrível silêncio que se absorve e que nos renova, até porque respiramos uma imensidão de ar puro, mesmo puro.
A deslocação de carro é feita no meio da mata, sem semáforos, sem barulho, sem trânsito desenfreado. Há inúmeras vantagens em trabalhar-se desta forma. Menos cansaço, menos stress, menos confusão. Mais energia, mais boa disposição, mais produtividade, mais gosto, mais entrega. De igual forma, há vantagens em viver em locais mais pequenos, que passam por facilidade em estacionar, ausência de ruído, relações humanas mais próximas (cumprimentamo-nos muito mais e falamos com os vizinhos, aqui), uma existência mais verdadeira e mais reconfortante animicamente.
A cultura, os eventos sociais, as lojas e as compras podem ser em menor escala, não temos o café à porta, é certo, mas há compensações, grandes compensações. No fundo, trata-se de um estilo de vida mais antigo, mais natural. E quanto mais no campo, mais natural. Daí que não me surpreenda minimamente quem esteja a dar o salto para fora das urbes e do ritmo que impõem. Vem com a idade, vem com a saturação de ambientes que sugam a energia, vem com o desejo de ser mais feliz por outras vias, vem com o reconhecimento de que a natureza é a mãe que cura muitos problemas. E que dá vida. Neste caso, uma nova vida.

7 comentários:

  1. De tempos a tempos, sinto como que um apelo telúrico que me impele para as origens, já remotas,
    mas não abdico, por enquanto, das vivências da minha cidade.
    :)

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    1. Tem muitas vantagens, a vida na cidade. Mas há também muita coisa de que não gosto. Depois, há uma maior simplicidade em lugares pequenos e mais ainda no campo (embora houvesse certos locais e aldeias onde não conseguiria viver, devido a questões estéticas:) )

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  2. Não partilho de todo desta opinião. Sou totalmente urbana e não vejo isso modificar-se com a maturidade. A natureza, o silêncio, os passarinhos a chilrear, sim, mas só um bocadinho, em doses moderadas, associadas ao lazer. Não me imagino de todo a viver longe da minha Lisboa, com tudo o que ela tem de bom e mau. :))

    Beijinho
    Isabel Mouzinho

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    1. Pois, Isabel, a cidade tem muitos atrativos. A mim atrai-me mas cansa-me: o trânsito infernal, o ruído e mais umas coisitas que são o oposto de uma vida simples... A grande cidade, sim, mas só um bocadinho, ligada ao lazer. :) :) Também não sou apegada aos lugares, nunca os considero "meus" e posso mudar de local sem problema:) Beijocas

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  3. A êxodo rural têm vindo a aumentar por razões óbvias. Imaginava-me a fazer o mesmo se tivesse condições para tal, pois sou uma filha do campo. Mas isto noutra vida...
    Acredito em mudanças associadas à maturidade, mas que podem assumir direções distintas, como afirma a Isabel Mouzinho. Sempre gostei do campo, das minhas origens, mas comecei a apreciar mais a cidade, pequena ou média de preferência. Para já, não estou a ver a mudar a minha preferência pela cidade, apesar de detestar o trânsito. Um sinal disso é que,há uns anos, imaginava-me a viver em Aveiro e agora imagino-me mais a viver em Lisboa (ou arredores), apesar de não ser fã de grandes cidades. Numa outra vida também... Espero não ter sido confusa! :) Marla

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    1. Pois eu, Marlinha, não sou filha do campo e cada vez gosto mais de lá estar:) Gosto da cidade quando estou com as baterias carregadas e me apetece movimento e cultura. Mas para desligar, é bom ir a lugares como o Alentejo, que adorooooooo.

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  4. Sou fanático pelo campo, não gosto e não aprecio a cidade, seja ela qual for.
    No campo, a vida é feita de paz, harmonia, caminhos pacíficos sem guerrinhas desnecessárias, com animais fabulosos e além de não haver a ousadia daquela gente que se acha importante, há desde há séculos atrás uma união forte entre as pessoas e famílias que vivem nas aldeias ao redor do campo.
    É mesmo bom estar naquele silêncio a ouvir os pássaros, ver os lagartos a apanhar sol - eles não nos fazem mal se não os incomodarmos - e uma série de coisas que agradam a vida de qualquer gente humana, gentil, generosa, com valores, sem preconceitos, gente simples e que gosta de viajar de comboio e pouco mais do que isso.
    O que não há no campo, há na cidade. Por exemplo, o barulho dos aviões. Que pesadelo. Fico cheio sempre que vou a qualquer cidade de comboio ou camioneta ter de ouvir um ou mais avião a passar. Quase fico doente da cabeça.
    Mas enfim, há quem goste e ature essas maquinetas entre outras Bem Barulhentas.
    Que hOrror! Chega de cidade. Vou para uma aldeia perto de Amarante ou de Vinhais, em Trás-os-Montes, e um dia vou viver para o centro de França num belo campo ou pradaria... Hum! Prefiro viver à beira rio e esquecer-me dos pássaros que fazem cocó em cima da minha cabeça.
    Até lá vou ter de conviver com pouca gente humilde, à exceção dos alentejanos que são impecáveis. Os algarvianos também são impecáveis, tirando um: o presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal, o Cavaco Silva.
    Não tem jeito para Presidente da República como o Barack Obama e é menos generoso do que o Papa Francisco da Argentina.
    Okey, Okey. Já estou a escrever demais.
    Olha, gostei de te escrever, mas depois há mais.
    Não chateio nem arrelio ninguém generoso, fico é com inveja de quem vive em terrenos do campo.
    Um abraço do Pedro Alexandre.
    Meu Blog:
    http://yaychi281.blogspot.com

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