Há ainda muitos que revelam um completo desinteresse pelo
auto-conhecimento. Há inclusive um certo desprezo pelos livros de auto-ajuda,
como se fossem menos merecedores e menos cultos aqueles que procuram algum
conforto emocional e alguma reflexão que se centre neles mesmos. Não faço ideia
se há livros de autoajuda idiotas que reduzem tudo a fórmulas básicas que não
são, naturalmente, aplicáveis, não se decoram regras para ser feliz sem mais
nem menos. Mas a interiorização de ideias que vão ao encontro do que somos
parece-me, à partida, algo positivo. Assim como o conhecimento que temos de nós
próprios.
Ele é, de facto, fundamental para nos posicionarmos de forma
correta e justa no equilíbrio das nossas relações, sejam elas de que tipo forem.
Acontece constatarmos que muitos falam e apregoam sentenças aos outros sem
demonstrarem o mínimo conhecimento do que são, como reagem e como surgem aos
olhos dos outros. Desta forma, há um denominador quase sempre comum nestes
comportamentos – os indivíduos acham que têm sempre razão, que as suas opiniões
são a verdade e que as suas ações carecem de reflexão. Como atingir equilíbrios
exteriores se o conhecimento interior simplesmente não é cultivado?
O facto de se achar que se está sempre certo já é por si só
indicador da ausência de introspeção. Não se podem esperar relações e
comportamentos sólidos e maduros se partimos desta premissa. As pessoas que
falam muito e também aquelas que agem muito e que pouco ou nada refletem sobre
as suas atitudes são fáceis de identificar. Há sempre uma arrogância que
ressalta destas certezas, nunca revelando fragilidades ou incertezas que seriam
naturais porque parte da condição humana.
Porque razão as pessoas temem o confronto com a verdade do
seu caráter? Porque lhes é mais fácil abrigarem-se no imediatismo dos atos e
das palavras precipitadas e nunca optarem pelo silêncio reflexivo? Ou por
momentos que lhes permitam conhecer-se? Porque é tão difícil irem ao âmago de
si mesmas? Ou porque descartam leituras que o tentam viabilizar e
estigmatizam quem o faz?
A psicologia, a psico-sociologia, a astrologia, a análise e
outras são áreas que podem permitir o desbravar do nosso território interior.
Só com esse conhecimento poderemos ser mais superiores e construiremos momentos
melhores ao longo dos nossos dias. Desprezá-las, curiosamente, é um erro e
revela grande presunção por parte de quem, afinal, teme a verdade sobre si
mesmo e não é capaz de se conhecer. Ou sequer de dar mostras desse
conhecimento. As minhas pessoas preferidas foram sempre essas, as que falam
igualmente das suas potencialidades e das suas limitações, de forma natural,
assumida.
Ao contrário do que se possa pensar, os indivíduos que se
mostram com todo o seu potencial mas também com todas as suas incapacidades são
os mais seguros pois nada se lhes abala só porque revelam uma inaptidão. Ao
invés, quem muito esconde é porque sente pouca segurança para o admitir. Também
haveria mais honestidade se as pessoas conhecessem o seu eu. Talvez não aceitassem
posições para as quais são completamente desperfiladas, por exemplo. E não
embarcariam em aventuras, sejam elas quais forem, para as quais não têm estofo.
Por outro lado, cultivar o otimismo e as atitudes positivas é
bom. Repito que não se trata de fórmulas nem decorar aquilo que não se entende
mas interiorizar boas vibrações e comportamentos sadios só pode ser benéfico.
Felizes dos que estão mais além na escala do auto-conhecimento. Com livros ou
sem livros que os ajudem, mas abertos à sabedoria e aos ensinamentos que há a
colher desta nossa atuação por aqui.
Nada como termos o Ego bem colocado e conhecermos perfeitamente o princípio de Peter.
ResponderEliminar:)
Absolutamente:) Dessa honestidade só pode beneficiar o nosso mundo - interior e exterior.:)
ResponderEliminarConcordo absolutamente, como não podia deixar de ser. Aliás, só conhecendo as nossas fragilidades podemos congregar força interior em vez de uma carapaça que mais que protecção é uma muralha para para si próprio e para os outros.
ResponderEliminarAo ler o texto pareceu-me que devias escrever um livro desses de abrir caminhos à honestidade sensível, tantas vezes tão diferente da honestidade social.
Sagi
O auto-conhecimento, o ir aos meandros da própria personalidade pode por vezes revelar-se tão doloroso que muita gente prefere não ir ao âmago do seu ser. Essas pessoas têm certezas de tudo, o certo e o errado, dão conselhos e mandam "bitaites"!Gostei da sugestão da Sara! :)
ResponderEliminar:) Quem sabe, um dia? :) Estou a brincar, mas gosto destes temas, sim, deste tipo de leituras, reflexivas. Acho que nos fazem crescer... Obrigada às duas
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