Andamos todos uns contra os outros. Quer dizer, puseram-nos e vão-nos pondo uns contra os outros. É preciso resistir a isto, não deixar que o mal estar se instale entre nós, que não invejemos e queiramos o mal dos outros apenas porque nós não estamos bem ou tão bem quanto desejaríamos e merecíamos. Devemos desejar o bem para nós, reclamá-lo, em vez de querermos que os outros passem também eles a estar mal. Explicando. Somos contra certos direitos dos outros porque não os temos, admitamos. E o mesmo com benefícios ou vantagens. Mas que tal exigirmos que também os tenhamos e não, pelo contrário, contribuir para que desapareçam? Podemos ver isso na questão dos direitos adquiridos que foram ao ar. Muitos regozijam-se com a perda desses direitos, de pessoas mais velhas na profissão ou até de pessoas com mais poder e com mais dinheiro. Não devíamos ao invés mantê-los e alastrá-los, abrangendo-nos a todos? Se não agora, para quando lá chegássemos, sobretudo se falarmos em termos de idade? Nada tenho contra os direitos ou até privilégios de mais velhos se eu própria vier a beneficiar deles também. Donde nos vêm esta tola insistência em nivelar por baixo quando devíamos exigir e conseguir o nivelamento por cima? Se consideramos que estamos em desvantagem que tal lutar para conseguir chegar à vantagem? O mesmo para as condições de trabalho - porque estamos em crise e há, infelizmente, gente sem trabalho devemos aceitar tudo sem reclamar? Devemos baixar os braços e deixar que tudo se deteriore? Devemos sentir-nos contentes porque perdemos - ou outros perdem - qualidade no trabalho? O mal estar entre as pessoas, sobretudo a nível profissional, alimenta-se das injustiças, é certo, mas também da invejazinha decorrente da frustração de quem não luta para abolir essas mesmas injustiças. Mas que possam ser abolidas nivelando por cima e não por baixo. Se A tem um mais lutemos para que B também o tenha. Não há nada de dignificante na ausência e perda de direitos e regalias de quem trabalha ou trabalhou. A dignificação está em conseguir que todos nós deles possamos usufruir. Não há, em última instância, nada de dignificante na pobreza, se extremarmos a questão. Pessoalmente não desejo que a riqueza desapareça, quero é que a miséria despareça. Acabar com os ricos é, se pensarmos bem, uma estupidez. Acabar com os pobres, sim, uma urgente e permanente justiça . Almeje-se à igualdade por cima, insisto, com melhores condições de trabalho - e de vida - por parte de quem as tem inferiores. Almeje-se à equidade com a fasquia alta, muito alta. Testemunhem-se, resumindo, saltos e não quedas.
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