abril 09, 2014

Quando uma ata o é antes de o ser



Sempre pensei, e pelos vistos erradamente, que uma ata era o resumo feito durante ou após uma reunião ou uma situação formal de qualquer espécie que necessitasse de um registo escrito para provas na posteridade. Pessoalmente, e na minha área profissional, gosto de tirar apontamentos e escrevê-las depois, já que tenho evidentes dificuldades em realizá-las com a concentração e o tempo necessários enquanto as coisas decorrem. Defeito meu, certo, admito. Mas agora está-se a ir por um caminho que estranho porque decididamente não entranho. Os responsáveis pelas atas escrevem-nas antes da reunião - com a sua perspetiva e com o rumo que desta forma acabam por lhes dar - e leem-nas, ao invés de falarem de forma espontânea, e acompanhando o decurso natural da reunião, ainda que sempre subordinada a uma necessária ordem de trabalhos. Estas leituras das atas nestes termos, como forma de conduzir uma reunião, põem-me a voar para outros lados, para longe dali. E então quando são projetadas ainda pior. Continuo a gostar que alguém nos consiga envolver com o seu discurso. A comunicação é uma coisa que valorizo e, desta forma, uma coisa completamente diferente para mim. Não gosto de reuniões centradas, controladas e pré-estabelecidas. " O conselho de turma considerou o comportamento satisfatório..." antes de alguém abrir a boca. Depois vem a pergunta, olhos já fora do papel - "concordam"? Mas eu preferia que não fosse por esta ordem. O cúmulo aconteceu uma vez quando os presentes, todos já sentados, aguardavam o começo da reunião. A pessoa que a dirigia, sendo responsável pela ata, pois, começou a ler: "Depois da apresentação dos docentes..." Bom, estarreceu-se-me logo ali o cérebro. Qual apresentação? Ninguém havia falado nem dito o nome nem coisa parecida. Esta coisa de antecipar tudo torna-se, assim, absolutamente ridícula. Antecipa-se de tal maneira, por forma a agilizar, como está na moda dizer-se, que se diz terem sido feitas coisas antes de elas acontecerem. Escritas, lidas, antes do tempo. Quase proféticas. Se já tenho dificuldade em escrever durante, por falha minha, repito, imagine-se o que sinto quando se escreve antes. Passo. As atas são um resumo do que se passou,  não é preciso terem 20 páginas - nem 10 - como se isso fosse sinónimo de qualidade, concentremo-nos no essencial. Pessoalmente não projeto uma linha de uma ata, aliás não podia porque não a faço antes. Não à necessidade de controlar tudo nem de antecipar o não antecipável. Bem ou mal, comigo a coisa - a ata - só desata mesmo depois da reunião.

2 comentários:

  1. Ou essas actas chamam-se convocatórias onde consta a ordem dos trabalhos, ou são ilegais, isto é, são nulas, padecem de nulidade jurídica e, porquanto, susceptiveis de impugnação e subsequente ineficácia. Uma vergonha!

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    1. Ah, bom, Paulo, e eu a pensar que era a única a estranhar isto. Aliás até usei paninhos quentes porque isto é o que impera, é o que mais se vê e mais - faz-se com a certeza de que assim é que é trabalhar bem. Eu já sou uma ave rara nesta matéria :) :)

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