dezembro 16, 2013

Vidas em jogo


Ontem, uma amiga minha a lecionar na Alemanha postava no FB que estava a ver um documentário sobre a escravatura sexual em países asiáticos. Dizia, chocada, e eu li, chocada, que os pais vendiam as filhas, miúdas muito novas, a troco de dinheiro rápido que muito ajudaria as famílias. Por coincidência, hoje passou no jornal da noite da SIC uma reportagem sobre o tráfico de seres humanos, principalmente com vista à exploração sexual e laboral. São chamados os novos escravos. Estas vítimas atravessam fronteiras (e literalmente), numa abordagem criminosa à escala global. Obviamente que as regiões mais pobres são terreno fértil para esta drama, pois gente desesperada tudo ou quase tudo faz para sair da miséria e ousar querer ir mais longe (literalmente, também). O horror reside nisto - nesta ausência de valor da dignidade individual e em pior - na crueldade de quem explora, aproveitando-se da miserável infelicidade dos outros. A reportagem de hoje mostrou várias nacionalidades envolvidas nesta escravatura moderna, quer como carrascos quer como vítimas.  Mas fiquei a pensar num país em particular, aqui na Europa, que me parece continuamente massacrado por misérias que parecem não ter fim: a Roménia.  Primeiro, e falando apenas da sua história recente, foi o miserável desabrigo das vidas sob a ditadura cruel e demente de Ceausescu. Depois, parece ser a infindável pobreza que nem a mudança de regime conseguiu eliminar. (Confesso que sei pouco, muito pouco, sobre a atual Roménia e que tenho de pesquisar o possível sobre a mesma.) Continua-se a ver os mesmos rostos sofridos, a mesma mendicidade, as mesmas histórias dilacerantes de quem nada teve e nada continua a ter. Que é verdade que nem todos têm a mesma capacidade de fazer riqueza e de fazer as opções mais acertadas dentro das terríveis condições em que vivem, é, mas é também verdade e uma pior verdade que os governantes, leis e políticas de tantas nações não permitem que os seus cidadãos vivam condignamente. É que ninguém está a falar em vidas de luxo mas sim em vidas maltratadas que são vendidas por uma ilusão de uma existência mais confortável. É essa a maior tragédia. É que o sonho passa a sobrevivência, rapidamente, e no limite.

5 comentários:

  1. Também vi a reportagem e não tenho adjetivos para qualificar pessoas que se aproveitam da extrema pobreza dos outros para os explorar. Gente tão pobre de sentimentos .Um abraço Faty.( gente....não sei... )

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A desgraça de uns serve os propósitos de outros. Sempre assim foi. :(
      Beijinhos para si, amiga Aliete

      Eliminar
  2. No avião em Kuala Lumpur, vi pelo menos dois casais com características semelhantes - ele alemão, ela malaia e bem mais nova - que regressavam à Alemanha depois de umas férias na Malásia. Pareciam-me ser casamentos felizes, caso contrário não iriam à terra natal da esposa. Mas pus me a pensar: quantas raparigas jovens da Malásia, Indonésia, Tailândia não terão sido iludidas por um ocidental só para fugir à miséria? Para algumas, é como um bilhete da lotaria. É uma oportunidade de ter uma vida digna junto de alguém que as acarinha e lhes oferece uma vida melhor. Para outras, pode ser um pesadelo quando o homem é abusador e as condena a uma vida infeliz... Marla

    ResponderEliminar
  3. Não querendo fugir do assunto, acho que há pessoas com sorte, como nós, que nasceram com as condições socio-económicas adequadas para poderem ser felizes enquanto outras tiveram a infelicidade de nascer no seio de famílias extremamente pobres que se submetem ou são submetidas a situações degradantes... Marla

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A miséria extrema - e também a humana, como consequência - é transversal mas é um fenómeno decorrente de muitos fatores. Casamentos multirraciais e internacionais há muitos e é natural - e saudável - que os haja. Felizes ou infelizes, são como todos os outros.

      Eliminar