fevereiro 14, 2013

E tudo o estado levou


Encanitante, as voltas que isto tudo dá. Aquilo que julgávamos certo, desta vez profissionalmente falando, não está, afinal, nunca garantido. Quando era novita, o meu pai e tantos outros diziam para arranjar um emprego do estado porque as empresas privadas corriam sempre o risco de falir e o estado garantiria sempre trabalho e salário. Pois agora se a primeira perspetiva continua a ser possível a segunda tornou-se também ela possível, imensamente possível. Julguei que, estando efetiva, estava segura. Perto de casa, já, e finalmente para mim, julguei que quando o meu lugar estivesse em risco tudo estaria praticamente a falir. Parece que muita coisa vai falindo mas, e graças a deus, muita coisa ainda vai aguentando, por obra de milagres ou algo mais. Ia aguentando. Hoje temo também pelo meu futuro como docente. Sem adiantar muito mais, sinto que, pela primeira vez, aquilo que ouço acontecer a outros, a tantos, pode também, poderá vir a acontecer-me a mim. E não é porque há um sentimento de diferença, evidentemente, mas porque a segurança de que usufruo - uma segurança, minha e de outros, que parecia inabalável há alguns anos - pode voar com o vento. Um ar e vai-se.  Sem  mais pormenores, insisto.

Claro que os tempos mudaram, que o conceito mais antigo de "a job for life" (um emprego para a vida) está a ir-se e desaparecerá. Ainda há pouco tempo mostrava um excelente vídeo aos meus alunos do 12º ano que falava disso mesmo - do mundo do trabalho em mudança. Entre outras coisas, dizia que até aos 38 anos, as gerações mais novas irão provavelmente ter 14 empregos. Por várias razões, devido a várias circunstâncias que revestem o pano de fundo mundial da atualidade. Mas quem já não tem menos de 38 não lhe apetecerá muitas aventuras.  Sobretudo quando as alternativas são manifestamente insuficientes. Voltar para longe de casa, isto se mantiver o emprego, percorrer os caminhos de Portugal, e já vamos com sorte por não termos obrigatoriamente de atravessar fronteiras, desequilibrar harmonias familiares, é um retrocesso. Não se trata de flexibilidade porque esta implica colher algumas vantagens e ter algumas opções no emprego e algum livre arbítrio nas escolhas profissionais. Ela não significa perder benefícios ou avanços justa e arduamente conquistados. Que afinal é no que isto se resume. Despejo. Sem apelo nem agravo. Despejo e nada mais. 

6 comentários:

  1. Pois Fatinha, infelizmente é assim...receio o final do ano, por mim ou por alguém que estará sentado ao meu lado :(

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    1. Eu nunca tinha pensado que poderia ser afetada mas ouvi umas coisas... :(

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  2. Nem comento. Eu estou capaz de ir para a Austrália ou o Brasil. Ou para o Qatar. O amor cultiva-se, o amor por uma terra e uma profissão também.
    Sagi

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  3. A situação está assustadoramente complicada. E isto não é ser pessimista, mas sim realista. Como sabes, uma pessoa da minha família reformou-se antes do tempo, pois estava na eminência de ir a concurso e ter de trabalhar longe de casa, em final de carreira.
    Em 2003 foi-me dito: Esquece o "job for life". Isso já era. Essa pessoa tinha razão. A realidade está em acelerada mutação. Tenho pensado n vezes em deixar tudo e mudar de vida, de país / continente. Mas seria um disparate, desperdiçar a estabilidade (pouca, é certo) que tenho tido até agora. Se chegar o momento em que as portas se me fecharão, poderá ser tarde demais para ser aceite noutro país. A idade não perdoa... Marla

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    1. Olha, eu estou a chegar a uma situação que nunca previ, portanto quando me chega a mim, efetiva, está tudo dito... Segurança e certezas já eram. E a idade agrava, sim...

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