abril 18, 2010

InCultura(s) - Parte II



2. Dizia eu, então, há uma semana, que há em Portugal um profundo desinteresse pelo mundo ou de como a abertura ao mundo muitas vezes apregoada desde o tempo das descobertas é hoje praticamente nula. Sim, claro, nunca os portugueses viajaram tanto. Chega o Verão e as agências de viagens comprovam isso. Mas, como disse o actor Rogério Samora há alguns anos numa entrevista (partindo do princípio que essa revista reproduziu realmente palavras suas), “os portugueses não viajam, passam férias no estrangeiro”. Ora isto é completamente diferente.
Viajar significa observar, conhecer, envolver-se, adaptar-se, enriquecer-se, transformar-se até. Significa mergulhar e submergir os sentidos de forma intensa num outro mar que não o nosso. Para falar francamente parece-me que a maior parte de nós é o chamado turista de hotel, que só espera facilidades e comodidades e que não está disposto a correr riscos e a aventurar-se no desconhecido para absorver um conhecimento maior e mais real da realidade de qualquer que seja o local ou país dos cinco continentes. Aliás, ainda mais francamente, por aquilo que se observa, a maior parte das pessoas que vai para o estrangeiro, passar férias, pois claro, fá-lo quase sempre cheia de um incompreensível medo, frequentemente acompanhada de preconceitos e muitas vezes até com uma certa arrogância cultural.
Vou ser honesta. Claro que é impossível não sentir nunca toques de etnocentrismo quando somos postos perante tradições ou práticas a que não estamos habituados e sobretudo perante rituais ou esquemas sociais que a nós nos parecem estranhos (mas não definamos estranho, aqui, tal questão levar-nos-ia muito longe...). Começamos logo a comparar e achamos ou tudo muito primitivo ou tudo muito pitoresco ou tudo muito cruel ou tudo muito exótico. Não fugirei totalmente à regra...
A propósito do caso Maddie, houve uma quantidade de gente altamente incomodada pela forma como, diziam, os ingleses viam Portugal – um país exótico a lembrar Marrocos, onde nada funciona e cheio de incompetentes. Parece-me que se esquecem, esqueceram momentaneamente, que esse comportamento temo-lo nós em Marrocos precisamente e no Norte de África e na América Latina e na Ásia e no Médio Oriente e no oriente menos próximo (o que será que se diz no Dubai, confesso a minha curiosidade) ou seja em muitos lados que não estejam no mapa europeu, sobretudo europeu ocidental. Nós também achamos que somos muito melhores que esses povos. Olha, às vezes somos. Quer dizer, há coisas que temos e fazemos melhor. E outras, pior. É a vida.
Invariavelmente há bom e mau em todo o lado e é isso que importa saber. Celebremos realisticamente o que temos de bom e aprendamos humildemente o que os outros também têm. Registemos no nosso diário de bordo, não apenas que o hotel era fraco ou que a comida não era boa, mas, e sobretudo, as enriquecedoras experiências que estar em contacto com as diferentes culturas sempre nos acabam por trazer. Sejamos pois receptivos e ousados nas maravilhosas ou perigosas e surpreendentes ou decepcionantes viagens por esse incrível mundo.

5 comentários:

  1. Sem dúvida, hoje em dia quando marcamos as nossas ferias,temos como principal preocupação em que hotel vamos ficar, o que ele tem para oferecer, que fique perto de tudo...comodidade acima de tudo..mas e o resto, o verdadeiro dentido das férias, do descanso, do imprevisto...de ver o que nunca vimos, de saborear o que nunca tinhamos degustado antes...vamos lá pessoal com mochila ou sem mochila às costas, vamos ser portugueses os que navegaram por mares nunca navegados :)))

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  2. Sim sim é isso tudo... Esquecemos o explorar, verdadeiro sentido da palavra viagem... Mt bem, gostei muito...:)

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  3. E eu apoio, definitivamente! A minha prioridade até agora tem sido explorar locais por mim desejados, colocando em segundo plano o sentido «férias» e «descanso»...pois para mim umas boas férias significa (não só mas tb) vir gloriamente cansada...hehehe!
    Parabéns pelo blog, Fátima, tens uma seguidora :D

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  4. Obrigada Cathy... não imaginas como fiquei feliz, por seres a primeira ainda p cima:) Falta por mts textos mas vou fazê-lo aos poucos...p não ser td de rajada:) Quanto às reflexões, ainda bem que te revês, numca estamos sozinhos:) Bjs

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  5. Belíssimo texto, Fatinha! Ainda por cima sobre uma das minhas paixões: as viagens. Adorei e concordo com muito do que é dito aqui.De facto, os portugueses procuram sobretudo a comodidade, muitas vezes aqueles pacotes com tudo incluído (tipo Republica Dominicana. Abomino...Por isso fui pra Cuba!
    Prefiro a aventura, a espontaneidade, o encontro com o povos,... Para muitos, viajar não passa deste pacote monótono: sair de casa com tudo programado para, no regresso, "fazer inveja" tudo aos amigos... Recentemente, ao contar a uma amiga que iria ao Brasil, ela revelou esse silly "imcompreensível medo" ao mostrar-se chocada com a minha ida ao Rio de Janeiro, uma cidade tão perigosa... ou será maravilhosa? Depende da perspectiva de cada um... Marla

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