No outro dia assisti a uma impressionante reportagem sobre a actual situação nos Montes Golan. Pertencendo à Síria, foram primeiro capturados (na Guerra dos Seis Dias, 1967) e, depois, unilateralmente anexados por Israel (em 1981), não tendo sido essa anexação reconhecida pela comunidade internacional.
A reportagem chamava-se "Across the Shouting Valley" e dava conta da algo bizarra e comovente forma de comunicação entre famílias e amigos separados pela história, pela guerra, pela fronteira, pela inimizade, pela tonteria humana. Vemos como as pessoas comunicam acenando lenços, gritando e usando um megafone para poderem falar e matar saudades de quem não podem tocar fisicamente. Estão em dois lados opostos da barricada. Chegarem a um encontro físico, para dois países inimigos, implicaria esforços diplomáticos consideráveis, presenças das autoridades e controlos de documentos.
No filme é ilustrada uma situação dessas quando uma árabe síria casa com um árabe que vive no lado israelita, precisamente nos Montes Golan, já que se apaixonaram aquando, se bem me lembro, de uma visita de trabalho deste à Síria. O casamento, só possível cinco anos depois, foi de um aparato estatal fora do comum. Entrega da noiva num checkpoint. Tropa a acompanhar, muita lágrima e um futuro marcado por uma estranha distância familiar. De facto, a noiva não mais voltaria ao seu país e comunica com os pais por telefone, já que vivem na capital síria. Há mais de 20 anos que assim é. (O pai, que se encontrava em Damasco por altura da invasão, não teve nunca mais autorização para regressar à terra natal nos Golan). Porque não abrem o checkpoint - pergunta. De que modo isso afecta a segurança? Porque não posso ver a casa onde cresci? Porque não posso ver a minha mãe?
No filme é ilustrada uma situação dessas quando uma árabe síria casa com um árabe que vive no lado israelita, precisamente nos Montes Golan, já que se apaixonaram aquando, se bem me lembro, de uma visita de trabalho deste à Síria. O casamento, só possível cinco anos depois, foi de um aparato estatal fora do comum. Entrega da noiva num checkpoint. Tropa a acompanhar, muita lágrima e um futuro marcado por uma estranha distância familiar. De facto, a noiva não mais voltaria ao seu país e comunica com os pais por telefone, já que vivem na capital síria. Há mais de 20 anos que assim é. (O pai, que se encontrava em Damasco por altura da invasão, não teve nunca mais autorização para regressar à terra natal nos Golan). Porque não abrem o checkpoint - pergunta. De que modo isso afecta a segurança? Porque não posso ver a casa onde cresci? Porque não posso ver a minha mãe?
Milhares de sírios fugiram quando centenas de aldeias foram arrasadas com a invasão israelita. Hoje, restam apenas algumas aldeias onde estão muitos sírios, agora no "lado de cá - Israel". São estas pessoas que, por entre lágrimas e corações feridos, comunicam aos gritos, pelo vale que divide as duas nações, com os seus familiares e amigos do "lado de lá". É a única forma de se "verem". Envelhecem separados, nascem e crescem crianças separados, morrem separados. Por fronteiras realmente fisicas, também emocionais, tanto tontas como cruéis. Arame farpado revestido de loucura e intolerância humanas...
Ver esta reportagem fez-me lembrar dos tempos em que eu era uma pró-palestiniana acérrima. Com o passar do tempo lá me aburguesei também eu um pouco... tornei-me porventura menos radicalizada, ao ponto de quase esquecer que o conflito israelo-árabe tem, de facto, contornos muito difíceis de esquecer por quem os sofreu na pele. Defendendo a paz e a necessidade absoluta de coexistirem em harmonia, não deixo contudo de ficar chocada com situações de grande injustiça que muitos árabes viveram. Se os judeus muito sofreram e foram despojados de tudo numa europa hitlerizada, também não deixa de ser verdade que muitos palestinianos e outros árabes da região também perderam tudo...terras, famílias, empregos, vidas.
Comovo-me imensamente com os olhos inundados de quem grita e com as vozes que ecoam através do vale.... num programa que vale a pena ver. Para saber. Que não deixemos nunca de saber. É que no ocidente vem tudo muito filtrado...ao sabor dos nossos objectivos. Mas há um outro lado que importa conhecer. Conhecíamos nós esta Síria? O grito do vale? Pobre geografia a nossa, a que se esgota nos pacotes de viagens e nos jornais telealarme...
Faty, you are a true humanitarian. I vote you to replace useless Guterres.
ResponderEliminarQue histórias mais comoventes! Já vi uma reportagem semelhante sobre esta região, mas não sei se se passava na fronteira síria... Recordo-me de ver as pessoas a falarem à distância...Não faz sentido nenhum! O mais revoltante é impedirem o contacto total entre familiares como se se tratasse de um acto de espionagem!!! Esta realidade chocante e, ao mesmo tempo, ridícula retrata muitas outras onde o branco colonizador impôs fronteiras a seu bel prazer por motivos político-estratégicos, criando conflitos entre os povos e as tribos e feridas difíceis de curar... Marla
ResponderEliminarDeu-me a sensação de "dejá-vu"! Com o muro de Berlim passava-se o mesmo...
ResponderEliminarHistórias terríveis que nós, ocidentais, não percebemos. Será bom darmos valor à nossa liberdade!
Ana Gonçalves
Este é um mais um alerta para uma situação terrivelmente desumana. Obrigada por nos ir acordando.
ResponderEliminarBjinho
Odete Ferreira
Tristeza... Não há ninguém que ofereça telemóveis áquela pobre gente?
ResponderEliminarjoao de miranda m.