Uma colega há uns anos afirmava, de forma simpática, que, nos meus textos, não dizia nada de novo. Concordei com ela, embora isso não me impeça de dar a minha perspectiva e quiçá o toque pessoal. Desta forma, aqui vai mais um texto desse género. Novidade não será mas sempre sou eu a dizer.
Já ando há algum tempo para comentar a forte abstenção verificada nas eleições presidenciais de Janeiro (e também noutras eleições anteriores). Forte e lamentável, diria. Viver em democracia significa, entre várias outras coisas, poder votar. Por esta e outras liberdades houve muitos batalhadores, muitas lutas e muitas conquistas. Dirão os abstencionistas que não votar é também um direito que lhes assiste. Que é uma escolha pessoal, fruto do livre arbítrio que preside ao cidadão de nações democráticas. Até certo ponto, posso mesmo ter de anuir. Contudo, e apesar desse direito existir, não tenho propriamente de concordar com ele.
Os alunos podem faltar à aulas, o funcionário pode faltar ao trabalho, está nos seus direitos. Pois claro que está. (E, note-se, não estamos a falar de doença.) Mas, de forma massiva e continuada, torna impraticável a aprendizagem, a produção. Não se ajuda a construir o que quer que seja. Ora afigura-se-me que não votar, crónica e maçiçamente produz exactamente o mesmo resultado, ou seja ajuda a desconstruir, a não decidir, a não intervir,em última instância, a não actuar.
Esta demissão dos cidadãos de se responsabilizarem também pela escolha dos dirigentes não pode ser positiva. Até porque depois não lhes dá o direito de continuarem a dizer que nada muda, que tudo está péssimo, que todos são iguais. Resisto a esta visão eminentemente negativa da política. A mudança é sempre possível. Sempre o foi e sempre o será. É preciso primeiro acreditar e depois intervir. Por entre convulsões ou mais ou menos pacificamente, houve regimes que caíram, líderes que foram afastados, políticas que se alteraram, mudanças sociais que tiveram lugar, economias que mudaram. Tem sido assim o curso da história da humanidade.
Cair em pessimismos nihilistas e posições meramente anárquicas parece-me descabido e contra-producente. E também não quero acreditar que todos são iguais. Ficaram na história nomes, figuras que em muito contribuiram para o progresso das suas nações e para a melhoria das condições de vida e dos direitos humanos. Não se pode generalizar a corrupção, a mentira, a fraude, o autoritarismo. É preciso sim erradicá-los. E para isso nada como opinarmos nós em matérias como governação. Que o protesto não se transforme em indiferença. Está nas nossa mãos, pois, escrevermos os compêndios de história.
Eis mais um artigo de lógica inabalável. Os que não votaram nestas eleições (e nas anteriores) foram liminarmente encurralados aqui por este teu belo, esperançoso e afirmativo texto. Perante isto, resta-lhes talvez afirmar que o que realmente querem não está nas opções fornecidas. Em nenhuma delas. E isso pode ser mau demais... Oh se pode...
ResponderEliminarParabéns. Grande abraço.
É isso mesmo amiga - há quem afirme orgulhosamente que nunca votou e critique acirradamente "quem pôs estes gajos no governo". A minha resposta é: se não votas, então cala-te! Houve demasiada gente a morrer, homens e mulheres deste e de outros países para que cada um de nós pudesse ter esse direito. Desrespeitem o que quiserem mas não o sacrifício de quem morreu pela liberdade e democracia. Sagi dixit! ;)
ResponderEliminarVisitei o seu blogue. Obrigado pela sugestão. É interessante, no plano gráfico e no conteúdo.
ResponderEliminarContinue e a oportunidade de editar certamente aparecerá.
Cumprimentos
PSL
Obrigada aos três "comentaristas".
ResponderEliminarQuanto ao PSL,agradeço a sua simpatia em visitar-me. Fiquei deveras impressionada:) e agradada. Não estou na sua ala política mas estou a seguir o seu blogue. Temos uma coisa em comum - o gosto pela escrita, pela análise. E a simpatia, claro:) Thanks!