fevereiro 05, 2011

Cavaleiros das trevas

De cada vez que há um acontecimento que o justifique, lá navego pela internet  para ver os comentários postados às notícias. Que experiência aterradora, diga-se. Para além de não saberem escrever português, nem saberem pontuar, o teor medíocre que os comentaristas colocam nas suas opiniões põe-me doente. Ena tanta ignorância, tanto preconceito, tanto ódio. Donde vêm estes maus fígados, estas frustrações, este mal-estar com tudo e com todos? Emotividade violenta, virulenta, acompanhada das mais puras das irracionalidades. Como explicá-las? E, sobretudo, como digeri-las?

Ter sentido crítico, ter e expressar opinião são direitos fundamentais. Emitir opiniões diferentes, idem aspas. Mas há que discernir o bem e o mal, também naquilo que pensamos e que apregoamos. Sob pena de queremos validar coisas inaceitáveis e contrárias aos direitos, também fundamentais, dos outros. Há pontos que são claramente condenáveis. A discriminação, o racismo, a xenofobia, a violência, o ódio e outros que tais não são bem vindos nas sociedades ditas de direito, nos tempos modernos da civilização, num mundo, apesar de tudo, mais desperto para a opressão e sofrimento do outro. Liberdade, sim, sempre, mas com valores. Éticos e construtivos.

Ler comentários medíocres cujos autores se escondem sem rosto muitas vezes por detrás de alcunhas virtuais é penoso, triste e revoltante. Ver como instintos básicos ainda populam indivíduos no século XXI e como são veiculados online, na segurança do anonimato. Nessa altura, uma forte intolerância parece tomar conta, também, de mim. Ir por aí fora com uma varinha mágica e extinguir esses pensamentos, essas crueldades, esses cavaleiros destrutivos mergulhados nas trevas. Mas sendo contra as formas de violência mais primárias e gratuitas, resigno-me a irritar-me em silêncio, primeiro, e a denunciar, depois, comportamentos que estão para lá da minha sensível compreensão. E vou sempre esperando, pois claro. Esperando que se faça luz.

Uma amiga aqui há tempos dizia para eu, pura e simplesmente, não ler. Compreendo o que quis dizer e tem razão. Mas, lá está, esperançosa como sou volto à carga, esperando que apareçam almas iluminadas que saibam construir, de forma racional, aberta, informada, humanista, equilibrada e responsável, ainda que crítica.

5 comentários:

  1. É. E esses comentaristas de que falas também votam, sabias?
    Bom artigo. Absolutamente certeiro.
    joao de miranda m.

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  2. Pois... isso é que é grave. Obrigada por tudo, inclusivé por estares atento. Bj

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  3. Pois a mim também me magoam muito esses comentários...por vezes até exageradamente. Até parece uma coisa pessoal que me afecta e me aborrece durante parte do dia. Também queria não ler, mas sou como tu, sofro de esperança crónica!
    E agora um beijinho para ti, para saudar a tua veia e pena muito inspirada.
    Gi*

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  4. Exacto, é isso tudo...aliás calculei que partilharias certamente essa opinião, e ambas sabemos porquê:)Obgda por este beijinho e ... retribuo!

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  5. Quando navego pela net, curiosa como sou, também gosto de espreitar os comentários a determinadas notícias e fico chocadíssima com certos comentários de "maus fígados"! Eu interrogo-me onde estão os valores, o civismo, o respeito,... Ainda hoje me interroguei sobre esta questão ao ler alguns dos mais de 1600 comentários ao polémico artigo " A parva da geração parva" da Isabel Stilwell. Apesar de ter sido um artigo infeliz, isso não justifica os ataques ferozes, alguns de muito baixo nível à jornalista, sempre sob o anonimato o que revela não só uma enorme falta de educação como uma grande cobardia ao não assumir frontalmente o que pensam. Marla

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