março 01, 2011

Irmandade não muçulmana

Em algumas férias que passei na Tunísia pus-me a ver as telenovelas da Arábia Saudita. Não percebia a língua, claro mas gostava de ver aqueles casarões imensos, as belas roupas das mulheres, assim como os seus penteados  (e constatar que tapadas só mesmo fora de casa). Não creio que tenha sido apenas um pequeno ataque de futilidade que me deu. Via por curiosidade cultural, para tentar entrever algo mais da realidade de um país árabe rico, neste caso, mais do que aquilo que é mostrado no ocidente via telejornais alarmistas e por vezes (muitas vezes) extremamente redutores.
Esta introdução serve o propósito deste texto que é o de dar enfâse à chamada irmandade árabe por via de negar que seja a religião que os une. Expliquemo-nos.
A impressão com que fiquei e fico é a que é , fundamentalmente, a língua que une as nações árabes. Ou seja, há de facto uma grande identificação mas ela é sobretudo linguística, primeiro, e geográfica, depois. Não chamamos nós "país irmão" ao Brasil porque falamos a mesma língua? Não chamamos nós "nuestros hermanos" aos espanhóis porque partilhamos a Península? Entao, que esperar dos árabes, falantes da mesma língua (com algumas variantes) e perto uns dos outros na sua localização geográfica? Trata-se, de facto, de uma grande irmandade. Um pouco à semelhança daquela que existe na América Latina espanhola. Ouvem-se as mesmas canções e artistas de país para país, vêem-se os mesmos filmes e telenovelas de nação para nação, conhecem-se obras de autores e pensadores vizinhos e cuja língua podem entender e desta forma ler e conhecer.
E acrescento. Há países muçulmanos não árabes e a proximidade cultural e desta forma afectiva não é tão forte. Um argelino não se sentirá tão ligado à Turquia. E menos à Albânia. E bastante menos à Bósnia. Depois menos ao Irão. Depois ainda menos ao Paquistão e ao Afeganistão. Ainda menos às ex-repúblicas soviéticas do Uzbequistão e Turcomenistão e as outras. E ainda menos à Indonésia. E ainda menos ao Brunei. E menos menos às Ilhas Maurícias. Percebem o que quero dizer?
A união entre os árabes decorre da compreensão linguística e, consequentemente, cultural que os contempla e que é fruto da história e da geografia. A questão religiosa é, por muito que muitos achem que não, secundária e muito mais fragmentária. Se a região árabe fosse uma babel europeia esse sentimento de família seria muito menor ou nem existiria. É minha forte impressão. Registo-a aqui.

3 comentários:

  1. De facto, a língua é o elemento de união mais forte entre povos e países vizinhos ou não. Mais do que a religião! A língua aproxima-os e, como tal, tem se verificado muita solidariedade entre os países do norte de África na sua luta pela democracia/ liberdade. Todos se têm apoiado de forma fraternal e desejam ao seu vizinho o mesmo que desejam a si próprios. Também concordo que a religião é secundária e uma prova disso é o facto de, por exemplo, em Israel os judeus "locais" não se entenderem bem com os judeus oriundos da Rússia. Segundo consta, a cultura e mentalidade israelitas diferem bastante das da Rússia. Esta realidade provoca um choque cultural que a religião não ajuda a ultrapassar... Marla

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  2. Não se duvide que é a língua o elemento unificador. Na Tunísia, onde já passei alg tempo, pude sempre aperceber-me disso. É o elemento de verdadeira identificação cultural... Faty

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